Não conheci Lilia das Mangueiras. Esse privilégio coube a Gutemberg Cardoso, Josival Pereira, Fernando Caldeira, Otacílio Trajano e, mais recentemente, a Fabiano Gomes.
Sou de outras plagas e com outras Lilias convivi no sertão do outro lado.
Estrela, a mais famosa, já estava na terceira idade quando a conheci. E só tinha amor para dar a seu Pedro Caboclo, o moreno farrista, exímio corneteiro e feliz sapateiro, que conquistou seu coração até a eternidade. Ainda morava no cabaré, tinha bar dentro do cabaré, mas era chamada de dona até pelas mulheres da alta sociedade, que acorriam ao seu bar atraídas pela buchada de bode e pela linguiça caseira de porco.
Lilia ensinou Cajazeiras a amar. Durante 40 anos seu cabaré foi pouso de boêmios, de jovens saindo da castidade e de grandes coronéis. Ali, os que tinham dinheiro compravam o amor das putas em flor e os rapazes lisos serviam-se da bondade das damas para também amar.
Hoje Lilia foi encontrada morta.
No seu cabaré da BR 230, nos aceiros de Cajazeiras, não se ouviu o tocar da sanfona chamando as mulheres para um cumbrego.
O toque triste de finados anunciava, logo às primeiras horas, que a mulher que ensinou Cajazeiras a amar agora era saudade, partira para outros céus.
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