opinião

O AEROPORTO

28 de janeiro de 2024

 

Por GILBERTO CARNEIRO

A EXPECTATIVA era enorme. Chegamos no aeroporto de Recife por volta das 13:00 h. O voo das nossas filhas para Brasília estava programado para as 14:00 h. Era a primeira vez que viajavam sozinhas e, por isso, o clima de euforia desbancava qualquer contratempo ou incômodo. Em Brasília, ficarão uma semana na residência de uma das tias aproveitando o restante das férias escolares e curtindo a festa de formatura de uma das primas.

Minhas filhas, duas adolescentes lindas e maravilhosas, são para mim o que sou para os meus pais. Os traumas que vivenciaram em decorrência desse maldito law fere paraibano lhes deixaram sequelas difíceis de ser reparadas, então procuramos lhes dar muito amor, carinho e compreensão.

Acompanhá-las até o aeroporto para embarcá-las sozinhas tornou-se uma aventura, pois não poderíamos estar com elas nesta viagem devido ao alto custo das passagens aéreas. Embora tenhamos curtido cada momento ao lado delas, do trajeto terrestre ao momento em que seguiram rumo ao interior da aeronave, não posso deixar de registrar os dissabores no Aeroporto Internacional Guararapes – Gilberto Freyre – em Recife, inobstante o prazer indescritível que foi acompanhar a sensação de liberdade e independência expressados por minhas rebentas.

Faço o registro dos inconvenientes numa pretensa tentativa de alguma forma chamar a atenção para os descalabros que estão sendo praticados pela empresa espanhola AENA, responsável por administrar o terminal, desde o ano de 2020, no governo de Bolsonaro, quando a empresa hispânica venceu a licitação do aeroporto, a mesma que ganhou o certame do aeroporto Castro Pinto, em João Pessoa.

Logo ao chegar espantei-me com os valores do estacionamento, 18 reais a hora. Passei menos de duas horas no aeroporto e paguei o valor correspondente a 30 reais pelo estacionamento. Para se ter uma ideia do absurdo, o shopping Rio Mar, um dos mais badalados de Recife cobra 11 reais por 4 horas.

Ao entrar no saguão do aeroporto me dirigi ao bebedouro para abastecer minha garrafinha de água e não pude fazê-lo porque havia uma plaquinha: “em manutenção”. O jeito foi saciar a sede adquirindo duas garrafas de água mineral de 300 ml, cada uma ao preço surreal de 7 reais, cada, totalizando 14 reais.

Após embarcar nossas filhas resolvemos aguardar a decolagem e fomos a uma cafeteria. Pedimos dois cafés com leite médios e uma porção de pão de queijo. Quando veio a conta, a surpresa que já não era novidade: 55 reais, cada café 17.50 e a porçãozinha com 10 pães de queijos pequenos do tamanho de uma azeitona, 20 reais.

Resolvi então indagar o gerente sobre as justificativas para tão elevados preços, um cara simpático e atencioso, explicou: – “A culpa é da Aena. Mudou a metodologia do cálculo dos custos, pois passou a cobrar taxas baseadas em indicadores, informações as quais os lojistas do aeroporto não têm acesso. Em vez de pagarmos o condomínio sobre um percentual de vendas, como está no contrato, passou a cobrar um percentual referente a voos e passageiros que passam pelo aeroporto. Mas como os lojistas podem ter controle sobre isso? Como podemos discutir com a Aena?”

E com um guardanapo sobre a testa enxugando o suor, finalizou: – “E uma outra coisa, se está aumentando os valores dos alugueis com base no aumento de passageiros é porque está potencializando sua receita, não se justificando a deficiência no serviço prestado. Estamos no Terminal mais movimentado do Nordeste, com uma média de 700 mil passageiros ao mês”.

Antes de irmos embora, terminado o lanche e tendo o voo das minhas filhas decolado, fui ao banheiro, e dos três visitados, dois estavam interditados. E se não bastasse, neste que funcionava faltava tudo, desde sabão a papel higiênico.

Mas o que realmente incomodou no período que permanecemos por lá foi o calor infernal. Ao indagar a um dos colaboradores da administração do aeroporto o motivo dos equipamentos de climatização não estar funcionando, a resposta foi típica da razão de ser da existência do capitalismo: – “A Aena está desligando os ar condicionados. Contenção de gastos” – disse, sem qualquer constrangimento.

Você pode gostar também

Sem Comentários

Deixar uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.