O APÓSTOLO CAMINHANTE

 

Quando fez 70 anos o reverendo Luiz Souza de França não se aposentou, como seria de praxe. Ao contrário, tomou para si a missão de construir uma igreja num descampado de Guiné Bissau, na África. Está lá, desde janeiro com sua esposa Fátima, fazendo cultos ao ar livre ou em alpendres de casebres com o mesmo entusiasmo dos tempos em que dirigia a Concatedral da Ressurreição Anglicana de João Pessoa.

Encontrei-o pelo Facebook. A careca brilhando, o sorriso estampado, ajudando os de lá a destocar o terreno que abrigará a igreja, acreditando, como sempre acreditou, que não existe batalha impossível.

Dá gosto ver um pastor assim.

Um pastor que leva a palavra de Deus onde ela se fizer necessária, sem ligar pra conforto, pra ar condicionado, pra carro de luxo ou pra esmola grande.

Este sim é um verdadeiro discípulo de Jesus Cristo. O Jesus Cristo caminhante, que dormia no chão, que se vestia de farrapos e comia com descalços e desnudos.

E ele tinha tudo para ser diferente, luxento, metido a besta.

Tem um bom salário como coronel reformado dos Bombeiros de Pernambuco, teve tudo para ser bispo da Igreja Anglicana da Paraíba, morava bem, num belo apartamento do Altiplano do Cabo Branco (o metro quadrado mais caro da Paraíba) e teve o mérito de soerguer a Igreja Anglicana da Paraíba, enchendo-a de fiéis que acreditaram nas boas vindas por ele anunciadas.

Já naquele tempo abriu mão do apartamento, do possível posto de bispo, do cargo de deão da Concatedral para administrar uma modesta igreja na zona rural do Conde. Lá construiu casa de morada, aumentou a igreja, fez crescer o rebanho e, ao completar os 70 anos, quando todos achavam que chegara a hora de pendurar as chuteiras, o homem doou a casa de morada à Igreja, pegou suas tralhas e se mudou para a África. Só ele, Fátima, a cara e a coragem.

Por isso não duvido do seu êxito. Ele nasceu para ser apóstolo de Jesus Cristo. Não aquele apóstolo ridículo dos dízimos milionários, mas o apóstolo da boa nova e da esperança.