Ao longo da vida, foi não foi tentam me fazer de besta. E na maioria das vezes conseguem. Sou desprendido de certas coisas, acredito sempre na boa fé do próximo. Por isso, aqui e acolá levo alguns tombos. Mas me levanto. Sou duro na queda.
O amigo Vavá da Luz certa vez me disse que um dito amigo apenas estava me usando. Não levei a sério a advertência, mas de vez em quando me pego na dúvida: “Será?”
Certa vez, o chefe da repartição, recém-empossado, chamou-me ao gabinete e com ares de quem estava me prestando uma grande homenagem comunicou que eu fora designado para assumir a chefia de importante cidade da Borborema que estava a precisar de um punho de ferro para endireitar as coisas.
E me mandou pra lá sem gratificação, sem diárias, quando muito me deu um carro com motorista que me levava e trazia todo santo dia.
Chegava em casa à noite e na manhã seguinte já estava na estrada. O serviço era muito, o desmantelo era enorme, mas contei com a ajuda de brilhantes advogados para colocar as coisas nos eixos.
Num desses regressos, noite escura, já perto da entrada de acesso ao município de Sapé, um bode de bom tamanho atravessou a estrada no exato momento em que o carro dirigido por Sargento Nivaldo passava na viagem de retorno.
A pancada foi grande, pelo retrovisor vimos o bode rodar na pista. Como o carro era oficial, orientei o motorista a parar no posto da Polícia Rodoviária logo adiante para comunicar o ocorrido. O policial rodoviário nos atendeu de longe, sequer mandou entrar.
– Em qual quilômetro isso aconteceu? – perguntou-me. E eu disse a ele que não sabia o nome do quilômetro, só achava que tinha sido numa curva ali perto.
Ele parou, puxou os óculos para a ponta do nariz e fez a pergunta fatal:
– O bode está aí na mala.
Diante da resposta negativa, o guarda, sem esconder a contrariedade, repreendeu-me:
– Mas rapaz, não socorreu a vítima!
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