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O capitão e o disco voador

25 de agosto de 2019

Marcos Pires

Como sempre fazia desde os tempos do quartel, o capitão acordou ainda de madrugada, colocou o moletom e calçou os tênis. Nada de grife, tudo raiz. Um solicito assessor bateu continência e afastou-se permitindo ao capitão sair para o sereno da madrugada.

Aquela era a sua hora, seu tempo de pensar nas frases que diria durante o dia e que chocariam grande parte da população. Mal sabiam que essa estratégia havia sido aplicada desde antes da vitória; só que após a posse, enquanto a nação discutia suas palavras, sua equipe cuidava de tocar o Brasil sem maiores interferências.

Quase ninguém havia percebido que o capitão dizia coisas que não colocava no papel. Um exemplo simples; enquanto o país discutia sua recomendação para que os brasileiros só evacuassem a cada 48 horas, a equipe avançava na reforma da previdência e mudava-se a estrutura de importantes órgãos da administração, mexendo em pontos sensíveis como o COAF, a Receita Federal e até na Polícia Federal.

Desde que assumira, sua entourage havia remontado os gambitos políticos, numa troca que tirara da vitrine do Senado os antigos e aparentemente eternos cardeais, substituindo-os pelos mais ilustres desconhecidos. Até mesmo o anuncio do nome de seu filho como Embaixador nos Estados Unidos começara como fumaça produzida para que suas ideias de reforma e expurgos na máquina administrativa não fossem notadas. No entanto a nuvem estava se solidificando.

E agora ali, na solidão da madrugada de Brasília, o capitão pensava como poderia avançar no seu maior desejo. Não, nada de novos impostos, tipo essa recriação da CPMF que seu posto Ipiranga anunciara. Para encobrir o assunto negara a existência de queimadas. Sempre que precisava mascarar uma ação forte, apelava para o meio ambiente. Enquanto o povo procurava nos céus os sinais do cataclisma, ele atacava os contribuintes.

Na verdade, o que o capitão estava preparando naquela madrugada era a forma de conduzir sua reeleição. Com as últimas tacadas praticamente anulara o Juiz, que crescia nas pesquisas. Continuando assim só perderia a reeleição se de um disco voador descessem ETs e pedissem para conhecer o líder máximo, sendo conduzidos a Curitiba.

Iria chamar o astronauta que colocara como Ministro para neutralizar essa má influência espacial.

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4 Comentários

  • Reply Sebastião Gerbase 25 de agosto de 2019 at 06:03

    A crônica do ano!

  • Reply enrique 25 de agosto de 2019 at 10:55

    capitaum motosserra palhaço comédia circo pro povo enquanto amazônia arde, enquanto o brasil se acaba

  • Reply jsmoura 25 de agosto de 2019 at 10:58

    Aprendi na vida militar que não sabe mandar quem não aprender a obedecer, e ao que me parece, o capitão de que se fala, foi convidado a deixar a caserna porque não aprender a obedecer, quanto mais mandar.

  • Reply SEVERINO A S DE LIMA 26 de agosto de 2019 at 05:02

    Também aprendi na caserna: manda, quem pode; obedece, quem tem juízo!

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