AO LONGO do tempo foram muitos os convites recebidos para casamentos com recepções luxuosas e a presença de gente “importante” da nossa elite social. Todavia, afastada a falsa modéstia ou qualquer insinuação de desconsideração para com os convidantes, a franqueza nos impõe reconhecer que não foram todas as celebrações que nos sentimos à vontade.
A semana passada tivemos a oportunidade de estar em um casamento que nos marcou profundamente. Recebemos o convite para sermos padrinhos de Gerciane e Hugo Matheus. A euforia tomou conta da nossa casa e começamos a nos preparar para o grande evento tão logo recebemos o belo convite.
Gessy, como chamamos a noiva, convive e é colaboradora em nossa casa há bastante tempo. No dia marcado partimos rumo a Juazeirinho, sua terra natal. Por volta das 18 h, belíssima, entrou na Igreja Matriz de São José para sob às bençãos de Deus, com todo apoio da família, contrair matrimônio com o noivo, um rapaz decente, trabalhador e de boa índole.
A celebração foi realizada por padre Fernando Jacinto e conduzida de forma descontraída, mas com palavras de conteúdo reflexivo sob a ótica do compromisso e seriedade que deve nortear uma relação conjugal, sob o ponto de vista do respeito, da cumplicidade e do amor que devem nutrir a relação entre os cônjuges: – “Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma só carne” (Gênesis 2:24).
Quando a noiva entrou na igreja demorou um pouco para cair a ficha. Um filme passou pela minha cabeça e lembrei de quando aquela moça, discreta, tímida, reservada, mas extremamente responsável, chegou em nossa casa há mais de uma década. Ela continua tímida, reservada e discreta, e foi justamente esta personalidade peculiar que nos conquistou, que a tornou tão querida e amada por nossas filhas. E naquele momento a emoção tomou conta de todos e as lágrimas copiosas eram sinais evidentes de felicidade, mesmo sob o ambiente de expectativa ao vê-la tensa andando a passos lentos desfilando pela nave da igreja ao lado da sua mãe, a sua “Tia” do coração, como carinhosamente a gosta de chamar, isso porque foi criada com a avó, que chama de “mãe”, e hoje tem o privilégio de conviver ao lado das duas.
Após a cerimônia fomos todos para o sítio Antônio Ferreira e a recepção que nos esperava me provou uma teoria que já defendia. Simplicidade não significa abrir mão do que se precisa. E sim, ter tudo que se faz necessário, adicionado da alegria de conseguir encontrar tudo o que realmente precisamos. Percebi que ali, naquela comunidade, eles não tem luxo, mas tem o suficiente para lhes proporcionar felicidade e harmonia na convivência cotidiana entre os vários irmãos, tios, primos e sobrinhos.
Tudo estava impecável. As mesas e cadeiras com suas toalhas branquinhas postas com taças, copos, pratos e talheres distribuídas no terreiro em frente à casa; um buffet montado com comidas caseiras deliciosas, churrasco e uma lua cheia que pairava sobre nossas cabeças iluminando naturalmente o ambiente como a avisar que ficaria por ali para garantir um céu limpo e sem nuvens.
E o que mais nos surpreendeu foi o povo. Pessoas simples, que labutam no dia a dia da roça, sentadas às mesas com um comportamento exemplar. Em nenhum momento presenciamos qualquer uma delas alterada pelo consumo de álcool, mesmo cerveja sendo distribuída à vontade. No instante em que se serviu o jantar as pessoas educadamente se postaram na fila e esperaram pacientemente cada um a sua vez, conotando o modo espontâneo, despretensioso e simples das pessoas, com humildade, qualidade esta que é opositora a arrogância e prepotência.
Saímos de lá extasiados. Constatamos que simplicidade não se trata de pobreza ou lugar comum. E, sim de riqueza espiritual, de estar vivo e ser autêntico. Qualquer ser simples, independente do local que se encontre, jamais irá perder sua originalidade ou pureza. E tão pouco apresentar comportamentos superficiais para ser aceito, seja em que ambiente for.
Foi uma das cerimônias mais belas que tivemos oportunidade de estar presentes. Ao lado da minha esposa, filhas, minha sogra e de pessoas de astral maravilhoso, como o meu amigo Eduardo e sua esposa Valéria, curtimos a festa até a madrugada e, quando fomos embora, tive a convicção que estava levando comigo um pouco da própria roça na qual nasci na Bahia, um local que me inspira e que, vez por outra, vou até lá para recarregar minhas baterias. Contudo, agora tenho um lugarzinho parecido para alimentar minha tendência saudosista, só que mais próximo: o sítio Antônio Ferreira.
3 Comentários
Bela descrição desse conterrâneo que não conheço. Fez -me lembrar e sentir saudades da minha terra e familiares que ainda vivem em Riachão das Neves-BA.
Obrigado amigo. Sou de Umburanas BA
Obrigada, s Gilberto! Ficamos muito felizes.