Ramalho Leite
O filho mais destacado do Barão de Araruna, o comendador Felinto Florentino da Rocha, ao falecer, deixou, além de grande prole, um patrimônio que arrolava cerca de noventa propriedades espalhadas pelo brejo, curimataú e até ao vizinho Rio Grande do Norte. Foi um dos maiores produtores de café, quando a região brejeira rivalizava com o centro sul, na produção da rubiácea. Chefe político regional, na feira de Moreno, hoje Solânea, proclamou: “aqui eu quero, posso e mando”, como narra seu bisneto, Maurilio Almeida.
E era verdade. Os tentáculos do seu poder alcançavam os mais distantes rincões brejeiros e curimataúzeiros. Nunca, porém, na política, pretendeu alçar voos mais altos que o afastassem da sua terra e dos seus haveres. Fez um genro deputado, Celso Columbano da Costa Cirne, na eleição de 1912. Outro genro, também seu sobrinho, coronel José Antônio Ferreira da Rocha, ainda no cheiro do seu prestígio, elegeu-se deputado à Constituinte Estadual de 1934. Felinto já se despedira em 1913.
Disse antes que Felinto Rocha não pretendeu dar voos mais altos, mas não lhe faltou oportunidade. Na República Velha, os cargos eletivos eram preenchidos antes de abertas as urnas. Os chefes partidários indicavam os nomes, organizavam a chapa e convocavam os eleitores a votar. Tudo aberto e transparente. Tão transparente que os “donos do votos”, quase sempre os patrões, ficavam de olho do “cumprimento do dever cívico”. O voto secreto foi uma conquista de 1930.
Pois bem. O monsenhor Walfredo Leal, ex-governante da Parahyba, considerado o alter ego de Álvaro Machado, chefe oligárquico, estava senador e deslocou-se do Rio para aqui conseguir a renúncia do juiz Pedro da Cunha Pedrosa ao cargo de primeiro vice-presidente do Estado, para efeito de desincompatibilização, sob a promessa de que seria incluído na chapa para o Congresso. Não foi. O renunciante considera, em suas memórias, que foi injustiçado e traído, atribuindo ao monsenhor, apenas, ser um enviado engessado do chefe do Partido, àquela altura, com um dos membros, João Machado, na presidência do estado.
Pedro da Cunha Pedrosa quedou-se em silêncio e aguardou melhor oportunidade. Eis que falece o chefe oligárquico Álvaro Machado e abre-se uma vaga no Senado por poucos mais de três anos de mandato. Era a vez do partido retribuir os serviços de Pedro Pedrosa e reparar a injustiça. Eis que surge um “espírito de porco” chamado Heráclito Cavalcanti que, anos mais tarde chefiaria a oposição contra João Pessoa. Heráclito, que era bananeirense, sugere então o nome do Comendador Felinto Rocha, chefe político de Bananeiras, para a vaga de senador. O presidente João Machado, que desejava guardar a vaga, futuramente, para si próprio, concordou de pronto. Todavia, a reação de Epitácio Pessoa e Venâncio Neiva fizeram de Pedro Pedrosa o senador.
“Afirmava Heráclito que, Felinto era homem abastado e de sua confiança e aceitaria o cargo simplesmente para conservá-lo até Joao Machado, terminado o governo, se desincompatibilizar, quando Felinto renunciaria e então, entraria João Machado para o senado, a completar o período” conta Pedro da Cunha Pedrosa em “Minhas Próprias Memorias”.
O coronel Felinto entraria na história como um “laranja”, ele que viveu e morreu no apogeu do café.
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