Com fama de machão e acochado, Gilvanzinho guardava dentro do peito um segredo doedor: era macho, mas nem tanto. Aquela fila de mulheres que se formava na porta da sua casa mendigando um sorriso, um afago ou um olhar, ele a trocaria sem querer torna por um acocho bem dado pelo mancebo bem dotado.
Mas resistia. Aliás, resistiu até onde foi possível, porque, como todos sabem, a carne é fraca.
Lá vinha ele, um dia, já se pondo o sol, pela calçada da feira, pensando na vida, rememorando as conquistas, os ganhos e perdas, quando lhe apareceu o jovem de olhar pidão. Jovem grande, de peito estufado, um primor de jovem a lhe chamar para alguns minutos de segredos em troca de possíveis favores.
Foi demais para ele. Que se lascasse o mundo, a felicidade batia, finalmente, a sua porta.
E não foi só um. A fila era grande. Um atrás do outro lhe rasgando, lhe abrindo, lhe fazendo de troço, de mulher despedaçada. “Me joga na parede e me chama de largatixa”, gritava na euforia do gozo. E tome rola.
Foi daí que nasceu dentro dele o gosto pelo misterioso mundo dos espíritos. Achava e queria descobrir em que corpo de mulher habitou antes de renascer como homem objeto.
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