Uma agressão marcou a imprensa nos idos de 80. Ano da fama de Zé Ramalho, saído daqui como bom cantor de conjunto, virado celebridade e mito no sul do país, cantando músicas doidas como aquela que falava de múmias e sarcófagos egipcios.
Celebrizado no país, Zé voltou à terra natal para um show. Grande show, casa cheia, falatório na imprensa, cidade agitada com a chegada do agora mito. Carlos Aranha, crítico de música, escrevia coluna em A União. Saudando o amigo que chegava, Aranha insinuou que “Admirável Gado Novo”, sucesso de Zé, era de outra autoria, Zé teria se apoderado indevidamente da música e a colocara como sua, ignorando o verdadeiro autor.
Zé Ramalho leu a coluna de Aranha, ficou calado, fez o show, dia seguinte saiu do hotel no onibus que o levaria com a comitiva ao Aeroporto, antes disso deu uma passadinha pela redação de A União que funcionava perto do Bompreço da Castro Pinto, parou, desceu, bateu palmas em frente a redação, chamou por Aranha, lá veio Aranha faceiro e sorridente, quando chegou perto Zé deu-lhe um tapa olho que levou Aranha à grama. E não deu mais porque Ferretão, funcionário das oficinas de dois metros e alguns centímetros, viu o acontecido, correu de lá e desafiou o ídolo: “Venha bater num homem!” Zé sentiu que iria enfrentar um cabra acostumado a botar peixeira em bucho de desafeto. Preferiu recuar, debrear e ir embora. Entrou no onibus e se foi para o Castro Pinto, deixando para trás um Aranha inchado, choroso e doído.
Não preciso dizer que a imprensa protestou, fez artigos candentes, chamou Zé Ramalho de um tudo, mas depois silenciou ao notar que o próprio Aranha perdoava o agressar e voltava às boas com ele.(Do meu livro Nos Tempos de Jornal)
4 Comentários
O outro lado da história é q Carlos Aranha queria que Zé Ramalho fizesse um protesto político num show de 1o. de maio em São Paulo, fato confirmado por Aranha e Zé Ramalho em documentário.
Muito bem, Tião. Narrativa verdadeira. Sou testemunha do ocorrido porque naquela época eu era revisor do Jornal. Corrijo apenas que a tapa não foi no olho. Foi uma tapa de mão aberta, bem esticada, no pé da orelha ou no pé do ouvido, como queiram classificar. O caso aconteceu no Jardim da casa alugada pelo Estado, onde funcionava A União e Aranha caiu sentado. Não se machucou. Ramalho ainda ia chutar Aranha, mas, quando viu Ferretão se aproximando e esculhambando, correu com a sela e entrou no Microônibus da Empresa Roger. Não sei se Ferretão é vivo, se for comprovará meu depoimento. Abraços, velho Tião.
Eu também me lembro desse episódio. “Entre o gado e a massa”, título do artigo, por sinal excelente e revelador, escrito por Carlos Aranha. foi o motivo da agressão covarde ao jornalista. A imprensa espinafrou por semanas o compositor. Tempos depois Zé Ramalho se envolveu num plágio do poeta inglês William Butler Yeats. Ele copiou ipsis literis um trecho do poema de Yeats editado numa história de quadrinhos de Hulk. Ferretão você é nosso herói! O nosso super-herói, por ter salvado Aranha.
Ferretão foi pro céu