opinião

O DIÁCONO

10 de dezembro de 2023

 

Por GILBERTO CARNEIRO

 

VOCÊ conhece a parábola do joio e do trigo? O homem semeou boa semente em seu campo, mas sorrateiramente veio o seu vizinho, que aparentava ser amigo, e jogou no meio da plantação o joio. Quando o trigo cresceu e começou a granar, apareceu também o joio. Recomendaram que retirasse o joio, mas o proprietário temendo arrancar também o trigo optou por deixar que crescessem juntos, a boa semente e a erva daninha. E quando veio a colheita orientou os ceifadores retirar primeiro o joio, amarrá-los em feixes e queimá-los e, em seguida, colher o trigo.

Esta parábola pode ser interpretada à luz da relação das amizades. Já me espantei com pessoas falsas e más, hoje vejo com mais clareza o joio. Assim, fica mais fácil abraçar o trigo.

Por vezes somos obrigados a conviver com relações de amizades tóxicas em meio a amigos verdadeiros. Isso não é bem o problema, a maior dificuldade não é conviver, mas separar o joio do trigo. Admito, tive esta dificuldade, hoje não mais.

Na verdade, a experiência muitas vezes nos ajuda a discernir entre pessoas genuínas e aquelas que não o são. Focar nas relações positivas e autênticas é uma escolha sábia. Ao reconhecer o joio, ganhamos discernimento para cultivar relações mais saudáveis ​​e apreciadas. Valorizar o trigo em nossa vida social proporciona um ambiente mais positivo e enriquecedor. Ao evitar o joio, criamos espaço para nutrir relações sinceras, baseadas na confiança e no respeito mútuo. Esta seleção consciente contribui para um círculo social mais significativo e gratificante.

Ao discernir entre o joio e o trigo, também é crucial cultivar as desvantagens em nós mesmos. Buscar conexões que se alinhem com nossos valores promove um crescimento pessoal mais significativo, construindo alianças sólidas para relacionamentos genuínos e duradouros. Quando o joio tenta crescer mais do que o trigo, isso faz com que a visualização do trigo se torne fácil. A sobreposição do joio sobre o trigo evidencia claramente seu interesse. Essa clareza permite que tenhamos mais atenção para preservar o que é verdadeiro e valioso em nossas vidas. Quando o joio tenta crescer desproporcionalmente, destaca-se sua natureza hostil. Isso nos motiva a fortalecer as raízes do trigo, simbolizando nossos valores e relacionamentos essenciais. Ao manter essa perspectiva, podemos resistir às influências negativas, promovendo um ambiente mais saudável e equilibrado ao nosso redor.

Lembrei do verso de um poema de Bob Dylan, verso que é sobretudo livre apesar das exigências de rima e métrica. “Eu vivo sempre em busca da leveza/ eu sigo cada solo de clarim/ sei o que é ser bom ou ser ruim/ em cada esquina espreita uma surpresa”

 

Essa percepção me foi passada por um amigo carioca, diácono Marcos, que se apaixonou pela Paraíba, casou-se com uma paraibana e hoje vive o dilema de residir aqui com um dos seus filhos exercendo seu trabalho home office e seu sacerdócio na paróquia Santo Antônio do Menino Deus, enquanto sua esposa mora no Rio de Janeiro com a outra filha do casal, à espera de se aposentar para virem embora em definitivo. Meu coração está sofrido pois soube que terá de voltar ao Errejota em razão da exigência do seu retorno ao trabalho presencial e às próprias dificuldades de manter-se longe da esposa e filha.

 

O diácono é um quase padre, mas lhe falta reconhecimento pelo “quase”. Os impedimentos ao diaconato reservam-se apenas para os sacramentos da Eucaristia, Confissão e Unção dos enfermos. A importância do diaconato na estrutura da igreja advém de um fato intrigante e curioso: podem casar, constituir famílias, isso lhes dá uma larga vantagem em relação aos clérigos, pois possibilita aos diáconos levar para dentro da igreja suas experiências concretas enquanto homens de família constituída.

 

Sentirei muita falta das nossas conversas sobre filosofia, religião e assuntos que afligem o homem contemporâneo. Ele é o trigo genuíno na plantação das minhas amizades. É uma das pessoas mais espiritualizadas, serenas, tranquilas e sábias que tive oportunidade de conhecer. Este texto foi   escrito a partir de uma reflexão que ele me passou, de outro diácono, o levita Glen Borba Carreira, que anseio pela oportunidade de conhecer.

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