Botaram na cabeça de Letinho Cana Brava que ele era intelectual, e Letinho acreditou. Tanto acreditou que passou a infernizar a vida dos vizinhos com seus discursos professorais ensinando onde entrava o ditongo, como tirava o tritongo e a melhor maneira de enfiar o advérbio.
Os moradores da Avenida Escorregou Tá Dentro já não aguentavam mais as aulas de gramática portuguesa de Letinho.
Ao menor escorregão de algum desavisado, lá vinha ele com suas lições chatas, longas demais, cheias de palavras difíceis, frases quilométricas, intermináveis parágrafos.
Até que chegou a vez de Chico Chambão.
Sentado a conversar na calçada de Toim Sanfoneiro, Chambão deixou escapar um “pro mode” e Letinho pegou na palavra:
– Não se pronuncia esse tipo de esculápio, o verbo tem que ser no gerúndio, entrando no mais que perfeito para avistar o passado de longe e prevenir o futuro…
E Chambão só olhando.
Porque a língua pátria varonil não comporta as adversidades dalém mar, eis que da glória advém os louros e do insucesso o fracasso….
E Chambão só ouvindo.
Aprenda de uma vez por todas e pare de envergonhar sua família, quando pronunciar a palavra tenha absoluta certeza da sua sonoridade e jamais permita que ela saia da sua boca levando consigo um significado pejorativo ou dúbio.
Aí Chambão, se dando por satisfeito, o interrompeu para perguntar:
– E o cu?
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