Marcos Pires
Luiz nasceu na Bahia em 1830 e nasceu livre, porque filho de uma negra africana livre e de um fidalgo português ao qual nunca se referiu pelo nome num gesto de nobreza, eis que seu pai o vendeu como escravo aos dez anos, após o falecimento da mãe.
Que começo de vida, hem?
Levado ao sul do país, aos dezessete anos foi alfabetizado por um hospede do alferes Cardoso, de quem era “escravo”. Cuidou de alfabetizar os filhos do seu dono e lá um dia decidiu pedir sua carta de alforria por ter ensinado o ABC aos pimpolhos. O alferes indignou-se. Que conversinha era aquela? Gama reagiu e ameaçou levar o sacripanta à justiça visto que era livre e jamais poderia ter sido escravizado. Disse que tinha provas disso. Cardoso bateu pino e eis Luiz Gama livre, graças unicamente aos seus argumentos e vontade. Tinha 18 anos.
Entrou na força pública, porém não se adaptou e passou a ser escrevente da Secretaria de Polícia. Um delegado que também era professor da Faculdade de Direito do largo de São Francisco franqueou-lhe a biblioteca e tornou-se seu protetor, o que infelizmente não foi suficiente para seu ingresso na faculdade. O preconceito racial o teria vencido.
Só que não.
Conseguiu habilitar-se para a advocacia perante os tribunais da Corte como provisionado, rábula. Tornou-se um dos maiores Advogados do Brasil. Escreveu artigos em jornais, livros e proferiu conferências, sempre objetivando a liberdade de escravos. Foi demitido do emprego por perseguição dos poderosos. Passou a viver só da advocacia. A maioria das ações que propôs baseava-se em uma lei de 1831. Todo escravo que entrasse no Brasil a partir da publicação daquela lei ficaria livre. Tal lei era fruto de uma enorme pressão da Inglaterra para que o Brasil libertasse seus escravos. Porém uma coisa era a lei no papel; outra bem diferente o que as Cortes faziam daquele papel. Tanto assim que naquele momento criou-se o famoso “para inglês ver”. Ou seja; existe porém não serve para nada. Para nada? Não conheciam a capacidade de luta e persistência de Luiz Gama.
Sozinho libertou mais QUINHENTOS escravos em titânicas batalhas jurídicas numa época em que todos os poderosos usavam grana pesada para manter seus escravos na produção de suas fazendas.
Vocês conhecem alguma praça, avenida, rua ou mesmo um beco homenageando Luiz Gama?
3 Comentários
O Brazil sempre foi um padrasto mal, para os seus verdadeiros heróis. Somos, infelizmente “o país dos heróis anônimos”.
Somos o “país dos heróis anônimos”, infelizmente!
Um herói nacional. Precisa ser divulgado sempre seu papel de gênio da raça.