Miguel Lucena
A moça de bunda redonda e fala macia anestesiava o grupo de amigos, de meia idade para cima, sentados à pérgola da piscina do hotel, no Lago Paranoá. De quando em vez, ela se levantava e puxava um lado do biquíni, enquanto dava uma voltinha para espairecer e provocar.
Os amigos bebiam que não viam o tempo passar. Cada um se imaginava desfrutando das maravilhas de se envolver nos braços da galega falante e desinibida, expert, entre outras coisas, em organizar passeios e negociar aluguel de imóveis.
Como nos leilões do interior, cada um dava o maior lance para impressionar. A proposta vencedora foi a de o grupo passar o réveillon em São Miguel do Gostoso (um nome bem sugestivo para a ocasião), no Rio Grande do Norte.
No íntimo, pensavam: dá e sobra. Somos capitalistas socialdemocratas, devemos ceder parte dos lucros e podemos dividir esse monumento de mulher que nos atordoa.
Ela ficou responsável por cuidar de tudo. Dava um beijinho em um, alisava as costas de outro, triscava com o ventre nos ombros do mais arrepediado, de modo a envolvê-los completamente. No dia seguinte, arranjou uma mansão para o grupo em São Miguel do Gostoso por R$ 48 mil, sendo 50% adiantados. “Café pequeno”, disse o mais amostrado.
Incomodada com tanto encanto, uma conhecida de um dos senhores resolveu checar a história do aluguel, descobriu que a mansão não havia sido alugada e a moça bonita havia ficado com os R$ 24 mil do adiantamento.
– E o pior é que ninguém comeu nada – comentou a amiga, sem esconder a satisfação pelo feitiço ter se desfeito logo no início. “A cobra estava enfeitiçando a Confraria do Pau Mole”, suspirou.
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