Memórias

O ‘furo’ de Bolsonaro e o pau da bandeira de Asfóra.

20 de fevereiro de 2020

MARCOS MAIVADO MARINHO 

Nesses dias não tão normais em que o Presidente da República manifesta malvada preocupação com o “furo” da repórter do jornal Folha de São Paulo, é oportuno lembrar Raymundo Asfóra, o notável tribuno que ao falar, como dizia Carlos Lacerda, era capaz até de “encantar serpentes”.

Óbvio que entre Bolsonaro e Asfóra há uma abissal diferença, em se tratando de como tratar mulheres.

O poeta era fino, elegante, requintado e carinhoso. E por ser boêmio e apreciador das noites e madrugadas, não foi difícil tornar-se um conquistador nato. Às mulheres – todas elas – ele sempre dirigiu a melhor das atenções e todas, indistintamente também, a amavam.

Bolsonaro, por sua vez, é um grosso, mal educado e perversamente costuma mostrar que não nutre mesmo por mulher nenhuma nada mais do que a possibilidade de receber prazer sexual.

Portanto, que logo fique esclarecido: nada os uniria nesse detalhe!

Pois bem, voltemos ao homem da granja Uirapuru e suas maravilhosas estórias.

Contam por aí que ele, candidato a vice-prefeito de Enivaldo Ribeiro no final dos anos 70 em disputa contra o carismático professor Juracy Palhano, carregava com o seu verbo rebuscado a campanha, literalmente, nas costas.

O atual vice-prefeito de Campina Grande não tinha bom discurso e falava pouco, mesmo sendo bastante querido do eleitorado.

Então, na verdade, quem impulsionava a campanha era Asfóra e sua fala retumbantemente ácida, destruidora de qualquer adversário.

Asfóra também tinha a incumbência de mobilizar a militância.

E numa bela tarde antecedendo um comício em José Pinheiro quando “a noite já podia mais do que o dia”, como ele costumava assim classificar o horário do por do sol, lhe chamaram para resolver uma confusão que se formara entre as meninas da equipe de apoio.

Ele foi lá.

Uma das moças se recusava a empunhar a bandeira e o coordenador da turma já perdera a paciência: “Ela não quer pegar no pau da bandeira”, avisou a Asfóra diante da irredutível auxiliar.

O tribuno não perdeu tempo. Olhou para um lado e para o outro, puxou a menina para um “corpo-a-corpo” e sussurrou no ouvido dela:

– “Filha, é bom você ir se acostumando a pegar no pau, porque é isto que você mais vai fazer na vida!”.

Deu-lhe um beijo na testa e voltou para o palanque.

Lá do alto da carroceria do velho Chevrolet deu prá avistar, feliz, qual bandeira mais tremulava no meio da multidão.

(www.apalavraonline.com.br)

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2 Comentários

  • Reply Cavalcanti 20 de fevereiro de 2020 at 19:05

    Comparar Raimundo Asfora com Bolsonaro é comparar Nosso Senhor com seu Mané da bodega

  • Reply José Lindomar 21 de fevereiro de 2020 at 10:36

    Não deixou de ser um tratamento semelhante ao que Bolsonaro teria com as mulheres, só mudaria a entonação e o beijo.

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