Aconteceu que naquele comecinho de tarde, tarde de inverno, de céu nublado e temperatura amena, Cajazeiras, no sertão da Paraíba, viveu momentos de agitação nunca dantes registrada em sua história. De logo aviso que tal acontecimento se deu num tempo distante, lá longe, quando Roberto Carlos ainda vestia fraldas.
O único motel da cidade tinha apenas 15 dias de inaugurado, era a novidade de hora, só se falava dele nas emissoras de rádio, nas rodas das bibocas e nos intervalos da missa.
Antes, como era comum nas pequenas cidades, os casais faziam amor à vontade, em campo aberto, sem serem molestados, ou melhor dizendo, molestados minimamente, pois os únicos inconvenientes que enfrentavam eram esparsas ferroadas de ciumentas muriçocas ou o amasso incômodo e fedorento em algum coliforme fecal displicentemente depositado debaixo do juazeiro do amor.
Aí chegou o motel e os aplausos do distinto público. Agora é que a coisa ficava chique. Trepar recebendo a brisa do ar condicionado, tendo a geladeira ao alcance da mão e o vídeo cassete erótico (ainda não chegara o DVD) ao alcance das vistas era mais do que bom, era ótimo, arretado.
Foi aí que a cidade ganhou fama. Quando Antonio Malvino falava em quebrar o queijo, pensava logo em Cajazeiras e nas suas galegas. Sales Boca Torta, ferrolho na Capital, arrancava as amarras na terra do Padre Rolim. Fernandinho Calheiros ficou famoso com a gozada que proporcionou à cajazeirense Marivalda em tórridas terras fluminenses, onde ainda hoje ecoa o brado dela, com voz de tuba: “Tô gojjjando, Cailheira!!!!!”!
Mas a coisa mudou naquele comecinho de tarde. E mudou por causa dessa violência impune que varre o Brasil e chega ao interior dos nossos interiores.
Um ladrão safado, atrevido e metido a valente invadiu as dependências do motel, rendeu o porteiro e se dispôs a fazer a limpeza nos apartamentos. Brabo feito um touro de chifres, ordenou para começo de conversa: – Vamos começar por essa tal suíte presidencial.
O porteiro perdeu a cor, ficou branco, tremendo, as pernas tocando tarol e, quase chorando, implorou: – Tudo, menos isso. Pode levar o motel na cabeça, o dinheiro, coma meu rabo se quiser, mas a suíte presidencial, não.
Claro que qualquer um ficaria curioso em descobrir o que se escondia ali dentro. E o ladrão ficou. Ficou e enfiando o cano do trinta e oito no queixo do pobre porteiro, determinou: – Abra essa merda logo senão morre.
Sem ter outro jeito, o porteiro abriu gritando: – É assalto!
O que se viu em seguida não pode ser descrito por mim, pobre escriba provinciano, mas por alguém mais gabaritado na arte de falar teclando o computador. Esforçar-me-ei, porém.
Tão logo ecoou o grito, de dentro da suíte começou a sair mulher pelada de várias cores e tamanhos. Mulher de doutor, de político, de fazendeiro, de comerciante, de soldado de polícia, todas correndo, nuas como Eva era no tempo do paraíso, subindo o muro do motel, se enganchando nos arames farpados, pedindo socorro e chamando pelos maridos. E atrás delas corriam homens novos e velhos, buchudos e atléticos, rostos conhecidos e famosos na cidade.
Os nomes deles e delas não fui autorizado a citar aqui. Mas a relação está sob a guarda de Dedezinho, o porta-voz oficial do Bar de Toinho Bibiano.
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