Miguezim de Princesa
I
Nenhuma pessoa se conforma
Com a vida simples de outrora:
Quando não pede no Ifood,
A pessoa quer comer fora.
Se o pai não tiver dinheiro,
Os filhos exigem na hora.
II
E, se para ter dinheiro
Um alguém se desviar,
A pessoa que pediu
É a primeira a apontar
E dizer “que coisa feia!”,
Querendo se arripunar.
III
Também os tempos difíceis
Não esperam pra depois:
Dia desses, no mercado,
Um doutor furtou arroz,
E até mesmo um deputado
Não pagou o sexo a dois.
IV
Comer casca e guardar ovo,
Já dizia mestre Vital,
Uma mulher pegou um corpo
Na pedra do hospital
E foi com o morto no banco
Exigir o capital.
V
– Meu tio, aprume essa mão,
Tá na hora de assinar,
Eu não aguento mais isso,
Abra o olho devagar,
Senão nós morre de fome
E o senhor vai se lascar!
VI
A funcionária do banco
Ficou meio desconfiada:
– Esse homem não está bem,
Com essa não arreada,
Assim não sai a rubrica,
Ai, meu Deus, que mão gelada!
VII
Quando a Polícia chegou,
Fazendo uma grande zoada,
A mulher se defendeu:
– Com ele eu nunca fiz nada,
O peste morreu agora
Com medo da papelada!
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