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O Homem que virou refrigerante

16 de agosto de 2018

 

MARCELO PIANCÓ 

Eu fiquei só imaginando como repercutiu nas intestinas mentes dos seus aliados a tão latente falta de preparo de um candidato no debate de antes de ontem. Uma coisa que ululava nas mãos trêmulas, na boca seca que buscava saliva num picolé imaginário e no balbucio desordenado de palavras decoradas para causar um efeito sentimental que teimava em sair pela culatra da emoção. Pois é, o sentimento sem cimento ruiu. E ruiu por que foi uma obra construída de maneira improvisada, uma espécie de puxadinho eleitoral onde tentaram copiar a mesma fachada, mas não fizeram o cálculo de quanto concreto seria necessário para alicerçar uma torre gêmea durante o abalo sísmico e cívico.
Confesso que fiquei preocupado, sim e sinceramente, acho que o bom rapaz em questão não merece fazer esse esforço hercúleo para garantir sucesso para outrem. Na sua claudicância está mais clara a insegurança de andar por caminhos alheios do que a sua própria vocação para o caminhar, além da timidez é claro. Ele demonstrava, na sua pureza e falta de jogo de cintura, uma espécie de temor pueril de quem estava sendo obrigado a recitar um poema de Augusto dos Anjos na escola em detrimento da pelada do recreio. Sim ele foi e tentou, não marcou um golaço, mas convenceu. Convenceu, principalmente, que as aparências enganam, mas não convencem. Os que diziam que certo candidato havia sido fabricado em laboratório, tirado do colete e servido ao povo como uma fórmula, só não se convenceram ainda que eram eles que estavam defendendo um clone que possui a mesma sustância e poder de comunicação do Dolly Guaraná. Eles sabem, o gás acabou na primeira rodada, mas vão continuar chacoalhando a garrafa até tirar o último suspiro do pobre refrigério.

 

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