Ramalho LEITE
Muito já se escreveu sobre a visita do Imperador Pedro II à Paraíba. Sabe-se que ele chegou à nossa capital na tarde de uma véspera de Natal. Era um sábado do ano de 1859. Um vapor da Marinha do Brasil conduzia o monarca e sua numerosa comitiva nessa viagem de quatro meses pelas províncias. Cinco dias foram dedicados à Parahyba do Norte. As cidades de Pilar, Mamanguape e Cabedelo tiveram a honra de ver de perto a coroa de D.Pedro que, a cavalo, conheceu ainda alguns engenhos da Várzea. A pompa com que foi recebido, as despesas do erário com as festividades, reformas e adaptações das instalações palacianas, tapetes, móveis e talheres condignos às bocas imperiais, importaram na abertura de um crédito especial para tal finalidade. Um conto de réis que mandaram da Corte foi insuficiente. Há registro de que o Imperador tomara emprestado alguns contos de réis para arcar com as despesas da viagem. O tesouro imperial era parco de recursos, mas, assim mesmo, S.M., “do seu bolsinho”, fez algumas doações que, infelizmente, foram desviadas das suas finalidades.
Quem pensar que essa história de desviar dinheiro público é invenção Republicana, está muito enganado. Governava a Paraíba, quando da visita do monarca, o paraense Ambrósio Leitão da Cunha que foi deputado, senador e presidente, ainda, do Pará, Pernambuco, Maranhão e Bahia. No seu périplo pela Província, o Imperador teve ao seu lado o governante local que, como é costume até hoje, rogava ajuda real para todos os males que não podia resolver.Pedro II comoveu-se em duas oportunidades e resolveu atendê-lo. Não voltaria, jamais, para saber o resultado dos investimentos que fez. É essa a história que estou querendo contar…
Na visita à Santa Casa da Misericórdia, Dom Pedro efetuou um donativo de seis contos de réis para serem transformados, pelo governador local, em apólices da dívida pública em favor da entidade. O novo governante, o gaúcho Silva Nunes, ao assumir, procurou saber como fora processada aquela operação, tomando conhecimento de que nada fora efetivado. Determinou de imediato, a sua execução. Qual não foi sua surpresa ao ouvir do Inspetor do Tesouro que esse dinheiro, saído “do bolsinho” do Imperador, sumira em função das necessidades urgentes de outros serviços da província. Naquele tempo, os sucessores ainda não brigavam com os antecessores, e Silva Nunes justificou a falha: “Sem dúvida, se por mais algum tempo permanece na administração o meu antecessor, teria realizado a sua intenção, satisfazendo assim as vistas do Soberano”.
Andando pela nossa cidade, Dom Pedro repudiou a localização do matadouro público, construído às margens de uma estrada com prejuízo para o meio ambiente. Novamente, como narra Silva Nunes em mensagem ao legislativo de então, o imperador entregou à presidência quatro contos de réis para a remoção do abatedouro para terreno mais condizente. “Sinto ter de dizer-vos (explica aos deputados provinciais) ainda esta vez que o estado dos cofres não me consente ocupar-me por ora com essa obra nem mesmo dispondo para seu começo desses 4.000$rs devidos à generosidade do Imperador, e de que meu digno antecessor viu-se obrigado a lançar mão para acudir a encargos urgentes da Província”.
Esse presidente Silva Nunes veio governar a Paraíba graças ao fato de ser genro do Barão de Muritíba, com grande influência na Corte onde era reverenciada essa nobre genrocracia. Tanto é, que saiu daqui para o Senado e governou outras províncias enquanto seu sogro viveu sob o manto protetor de Pedro II. Foi o primeiro governante paraibano a visitar o nosso interior. Recebido com muitas festas por ande passava. viajou trinta dias a cavalo, comendo a poeira do sertão e a lama do brejo, além das iguarias dos banquetes..
Quase ia esquecendo: o Imperador assistiu à Missa do Galo, à meia-noite, na Igreja da Conceição, ao lado do Palácio.
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