opinião

O ISOLAMENTO SANITÁRIO DA PARAÍBA

23 de setembro de 2023

 

Por RÔMULO MONTENEGRO

O ano era 2011 e o Governador então empossado recebera uma comunicação do vizinho estado de Pernambuco notificando-o para cuidar e agir com afinco para evitar que o estado da Paraíba não impedisse que o bloco composto pelos estados do nordeste ficasse de fora da “ascensão para Área livre da febre Aftosa de bovinos e bubalinos”;
A área livre significa uma garantia conferida pelo Ministério da Agricultura e pela OIE – Organização Internacional de Saúde Animal – órgão ligado a ONU – de que o serviço de defesa agropecuária é idôneo e eficiente a ponto de evitar uma pandemia que possa afetar o seu rebanho; Aftosa é a principal doença monitorada pelos referidos órgãos, considerando o impacto à saúde animal de consequências extremamente danosas ao comercio internacional de carnes e demais derivados do boi, bem como, a afetação à economia do País pela importância desse setor para balança comercial e o abastecimento local;
O serviço de defesa agropecuária da Paraíba encontrava-se a tal ponto tão caótico que sequer a base de dados do rebanho, das propriedades e dos produtores existia, ou seja, não sabíamos sequer qual o efetivo tamanho da pecuária paraibana e nem quem criava aqui no Estado!
Diante dessa realidade, como se poderia falar em serviço de “defesa agropecuária” se ao menos aquilo que se protege, se conhece; Pois bem, foi desta forma, que encontrava-se o órgão monitorador da saúde animal do estado da Paraíba no ano de 2010 e início de 2011;
Além disso, havia deficiência do quadro de veterinários, agrônomos e técnicos para atender a demanda decorrente da atividade de sanidade animal do estado da Paraíba! Veículos sucateados, escritórios fechados, falta de equipamentos básicos como computadores, kit’s de medicamentos laboratoriais para análise e verificação de doenças e etc.”
Por causa disso, o estado encontrava-se isolado, ilhado e totalmente impedido de realizar o trânsito do seu rebanho de bovinos e búfalos, salvo se se submetesse a uma quarentena de no mínimo 80 dias, tornando com isso, um impeditivo para realização de feiras agropecuárias, exposições e eventos que importassem na entrada ou saída de animais para outros estados considerados “área livre da aftosa”.
Portanto, diante dessa grave situação, o governo recém empossado, adotou uma “força tarefa” com as empresas ligadas à Secretaria Estadual da Agricultura, Emepa, Emater, Empasa e Interpa, além da própria Secretaria de Saúde que cedeu médicos veterinários, equipamentos e insumos, Secretaria de Administração PGE, CGE, de sorte a “falarem uma só língua” e garantir com urgência a recuperação da credibilidade do serviço de sanidade do rebanho estadual;
Passados 18 meses desde o inicio da nova gestão, cujo mandato iniciará em 2011, a Paraíba já dispunha de um cadastro atualizado do rebanho de bovinos e bubalinos, as propriedades e os criadores, e já exerciam o controle sanitário com a compra e manutenção de uma sistema interligado ao Ministério da Agricultura e a OIE que garantirá a eficiência da transmissão de dados para acompanhamento e monitoramento por esse órgão e entidade responsável para a sanidade animal no Brasil e no mundo!
Afora isso, adquiriu-de veículos, equipamentos, colocou-se em funcionamento Postos Sanitários de divisa entre os estados fronteiriços, além de Unidades Locais de Sanidade Animal e Vegetal (ULSAV’s) em 26 municípios estratégicos e outros 94 postos nas dependências das unidades da Emater espalhadas pelo estado;
A Federação da Agricultura do Estado da Paraíba (FAEPA), a Organização da Cooperativas do Brasil (OCB), a Federação do Trabalhadores da Agricultura (FETAG), além de outros, foram importantes na difusão e na publicidade das ações de vigilância implantados naquele período, de forma a garantir uma maior adesão de produtores as campanhas de vacinação contra a febre aftosa a ponto de atingirmos índices vacinais recomendados pelo Mapa e OIE por vários anos seguidos de acompanhamento;
A Polícia Militar, a Polícia Rodoviária Federal, os municípios e à Famup foram fundamentais para o controle de trânsito de animais para que se pudesse conferir de onde vinha e para onde seguia o rebanho, bem como, identificar a origem de eventual foco de doenças!
A Codata, empresa do governo do estado responsável pelo serviço de informática, foi importante e essencial parceira para os avanços conquistados quando abrigou o sistema da defesa agropecuária no seu enorme computador e proporcionou a emissão instantânea de GTA’s (Guia de Trânsito Animal) e PTV (Permissão de Trânsito de Vegetal), o controle de aglomerados (feiras livres, eventos agropecuários e exposições de animais) e demais ações que passaram a ser reunidas nessa sistema e proporcionou o instataneo acompanhamento pelos órgãos de controle;
Com essas providências e o empenho direto do então Governador, e, fundamentalmente, do corpo técnico da Defesa Agropecuária do Estado da Paraíba, se conseguiu a certificação de “área livre da febre aftosa com vacinação” sendo 2013 pelo Ministério da Agricultura, e em 2014, pela Organização Internacional de Saúde Animal (OIE);
Com isso, as exposições foram retomadas após 5 longos anos, os eventos agropecuários reacenderam e impulsos de divulgação para as cadeias da bovinocultura e da caprinovinocultura aconteceram a ponto de culminar como no presente como destaque estadual;
Nada acontece por acaso, tudo o que vem acontecendo de bom na agropecuária ao longo dos anos e se aperfeiçoando ano a ano decorreu da incessante luta empreendida para retirar do “fundo do poço” o serviço de sanidade animal do estado da Paraíba em anos pretéritos, precisamente, a partir do ano de 2011 até 2018; Esse é um trabalho intermitente o qual se iniciará quando bateu na profundeza da ineficiência até 2010;
Esperamos que os governos que se sucedem não deixe a “bola cair” e aproveitem para fortalecer e ampliar as conquistas porque foram elas, as conquistas, que permitiram que exportações de animais e seus derivados se ampliassem, bem como, de vegetais, mormente, as frutas pudessem ingressar em outros países oriundos da Paraíba graças a essa certificação garantida em 2014;
Diga-se passagem, de lá pra cá, até os presentes dias, nenhuma outra certificação desta natureza aconteceu, nenhum servidor foi empossado no serviço de defesa agropecuária, nenhum posto de monitoramento foi implantado, embora reconheçamos neste último ano, uma disposição por parte da atual gestão da Sedap de manter a eficiência do serviço e dinamizar o sistema, espero que aconteça de verdade!
Essa é a grande verdade retratada por uma pessoa que viveu e dedicou parte de sua vida ao serviço público de defesa agropecuária da Paraíba!

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