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O jornal que virou favela

10 de janeiro de 2022

Passei pela antiga sede de O Norte, na Pedro II, e vi uma favela no lugar. Invadiram o prédio e na frente do prédio construiram casebres.E para avacalhar ainda mais o ambiente, improvisaram varais na fachada, onde se encontram estendidas desde lençóis e toalhas a calcinhas e cuecas.

O Norte foi o objeto de desejo de todos os jornalistas do seu tempo. Era o mais importante veículo de comunicação do Estado. E o seu rei era Marcone Góes.

A redação era comandada por Evandro Nóbrega e o superintendente era Teócrito Leal.

O editor político, Júlio Santana, tinha mais importância para os deputados do que o próprio governador do Estado. Tudo isso porque a notícia que saía em O Norte seria lida de Cabedelo a Cachoeira dos Índios, passando por Cajazeiras e Princesa Isabel.

E como tinha jornalista que sabia escrever.

João Manoel de Carvalho escrevia a coluna política. Suas análises repercutiam, viravam temas de discursos nas casas legislativas e eram alvos de comentários no Ponto de Cem Réis.

Severino Ramos era cronista polêmico. Seus artigos eram respondidos com processos e violência. Biu não temia ameaças e para ele tudo era chã, não havia ladeiras.

E Nathanael Alves fechava o firo com crônicas com sabor de quero mais.

Lá para adiante Ivonaldo Correia, que depois foi substituído por Abelardinho Jurema, assinavam, Ivonaldo e Abelardinho, a coluna social mais cobiçada da cidade. Aniversário só era aniversário se fosse noticiado na coluna social de O Norte. E se saísse a fotografia ilustrando o texto, a coisa viralizava, o aniversariante se transformava em celebridade e, como todo famoso, tinha sua caixa postal abarrotada de telegramas de parabéns, sem contar os presentes.

Um dia, infelizmente, Marcone Góes caiu. Surgiram os estrangeiros enviados pelos Associados, que não tinham laços com a Paraíba, apenas apuravam o dinheiro e mandavam para os figurões da cadeia associada. E o final melancólico terminou chegando. O Norte fechou. A TV O Norte foi comprada pela Bandeirantes, que também comprou a rádio.

Sobrou o monstrengo que se vê hoje na Pedro II, a favela  mal construída, o escambo da história de um jornal centenário.

Até seus arquivos sumiram.

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2 Comentários

  • Reply José Ednaldo 10 de janeiro de 2022 at 15:39

    Imprensa parcial e podre, o resultado não poderia ser diferente.

  • Reply José 10 de janeiro de 2022 at 18:38

    Quem comprou as TVs e as rádios foi a família Pinheiro, dona do plano de saúde Hapvida. Na época, comprou todas as emissoras dos Associados na Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco. Quando Marconi Góes caiu, o jornal já estava em decadência. Na eleição de 1990, apostou todas as fichas na eleição de Wilson Braga. No governo Ronaldo Cunha Lima, os ingratos do Correio da Paraíba se fartaram enquanto os Associados amargaram o pão que o poeta amassou. Só após os tiros em Burity, que teve Marconi Góes como testemunha ocular, algumas migalhas socorreram os Associados na Paraíba. Pouco depois, a turma de Brasília assumiu o controle de tudo, injetou dinheiro, deu um banho de loja, o que garantiu a sobrevida d’ O Norte e do Diário da Borborema até 2012. Desde então, já fecharam o Monitor Campista, o Jornal do Commercio (RJ), o Diário Mercantil (RJ), o Diário da Tarde (MG) e o Aqui Pernambuco, e venderam o Diário de Pernambuco. Os Diários Associados atualmente só mantêm o Estado de Minas, o Correio Braziliense e O Imparcial (MA). As emissoras de rádio que sobraram foram as AMs de Natal, Brasília e Fortaleza, a Tupi do Rio de Janeiro e as FMs de Belo Horizonte e Brasília.

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