Memórias

O MATA SETE

5 de dezembro de 2020

O dia 29 de junho de 1979 amanheceu debaixo de muita festa, de muita música tocada pelos pifeiros de Jericó, contratados por Pedro Fogueteiro para animar o seu aniversário. Pedro nasceu no Dia de São Pedro e aproveitava a data para se homenagear e render graças ao santo.
A festa durava o dia inteiro e emendava com a noite. Novenas eram rezadas pelas compenetradas beatas da igreja Nossa Senhora do Bom Conselho, sob os acordes do cabaçal de Seu Neném de Jericó, mas  a garotada gostava mesmo era dos balões e rodas de fogo do aniversariante, tido e havido como o maior fogueteiro da região.
No Sítio Caldeirão, zona rural da cidade, o agricultor José Alves de Almeida sentava à cabeceira da mesa para o tradicional jantar de São Pedro. A mesa retangular e comprida estava cheia de manguzá, cuscuz, macaxeira, galinha guisada e dois enormes bules com café. Ele de um lado, a esposa ao lado dele e ao redor da mesa os cinco filhos tinham acabado de agradecer a Deus pela fartura e se preparavam para comer.Lá fora a fogueira acesa alumiava o terreiro e esquentava o couro do cachorro vadio.
Gonzaga Cacimba não cumpriria o ritual das festas anteriores. Não iria ao Cancão ver os fogos de Pedro Fogueteiro, nem se lembrava mais das anedotas que contava nas esquinas da cidade, tampouco comprara as balas que costumava distribuir com as crianças. Saiu de casa à boquinha da noite com destino a Caldeirão. Levava na cabeça a decisão de cobrar com sangue a honra da filha ultrajada.
Fernando Alves de Almeida tinha 21 anos e namorava Vera Lúcia, de 12. O namoro era consentido pela família, por isso causou espanto quando a menina comunicou aos pais o acontecido. A paixão desenfreada quebrou as barreiras do namoro e descambou no inexorável. A reparação teria que ser pelo casamento e o pai impôs essa obrigação primeiro aos pais dele e depois ao próprio autor do descaminho.
O rapaz prometeu casar, mas não casou. Fugiu para São Paulo e em São Paulo ficou. Gonzaga Cacimba ainda o procurou na metrópole, mas foram duas viagens em vão. Foram dois anos de buscas infrutíferas, de conversas jogadas fora, de promessas não cumpridas. Até que lhe comunicaram a novidade: o rapaz ia casar com uma paulista.
A porta da casa estava aberta para por ela entrar o calor da fogueira e por isso o visitante não teve que chamar o tradicional “ó de casa”. Entrou, olhou para os surpresos comensais e, sem dizer uma palavra, sacou os dois revólveres que carregava na cintura e disparou 12 vezes.
Os corpos de José Alves, da esposa e dos cinco filhos ficaram espalhados pela sala.
Consumado o crime, Gonzaga remuniciou as armas, guardou-as e saiu tranquilamente, sendo tragado pela noite.
Morria também, naquele instante, o alegre e bonachão Gonzaga Cacimba. E nascia, a partir dali, o famigerado “Mata Sete”.

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5 Comentários

  • Reply severino de maria 5 de dezembro de 2020 at 18:45

    Tiao, teve uma menina, fila ou sobrinha que fez um documentário sobre esse episódio, pode me informar aonde o encontro?

  • Reply Eduardo Valois 5 de dezembro de 2020 at 23:23

    Mataram também esse Gonzaga cacimba? Esse bandido por uma honra besta matou 6 inocentes! Tomara que tenha tido uma morte lenta, um câncer maligno com metástase e nesse momento esteja ardendo no fogo do inferno

  • Reply severino de maria 7 de dezembro de 2020 at 16:52

    Tiao, seu calça frouxa e aí? cade a resposta? do filme-documentário do mata sete? sabe me informar ou não

  • Reply severino de maria 7 de dezembro de 2020 at 16:56

    Eduardo sei vagamente que tempos depois a policia o encurralou em uma casa, creio que em belo jardim e diante da resistência ela o matou. São informações vagas, mas creio que foi isso que aconteceu.

  • Reply Hugo Cesar 19 de janeiro de 2023 at 07:56

    Tá aí como mataram “mata 7”

    https://auniao.pb.gov.br/servicos/copy_of_jornal-a-uniao/decada-de-1980/1981/marco/03-03-1981.pdf

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