Marcos Pires
Já contei aqui que logo no início da minha advocacia eu recebia as mais estranhas formas de pagamento, inclusive um peru, que era cortejado todas as manhãs pelos meus filhos quando saiam para a escola. Eles assoviavam e o peru respondia, até que um dia nossa secretária teve a ‘brilhante’ ideia de preparar um almoço com o peru. Mesa posta, lá vem o prato principal. Carolina olhou para Pedro e disse que aquela maravilha era o querido peru. Foram tantas lamentações que pedi para retirar o prato da mesa e o almoço foi arroz com ovo (ou kitute?). À noite a maluca da secretária modificou a iguaria; fatiou o peru e trouxe para a mesa, onde foi prontamente identificado por meus filhos, que acusaram a pobre secretária de ser cruel, porque matara e esquartejara o pobre peru. Jantamos sopa e nunca mais se falou no assunto. Isso eu contei aqui.
Estava lembrando de outros honorários estranhos que recebi, todos muito bem-vindos. Garrafa térmica, passagens para uma viagem a Portugal, roupas e até um automóvel com um carnê de 30 prestações a vencer cujo cliente não podia mais pagar nem a renovação do emplacamento.
Uma ocasião resolvi um problema muito, muito grande, para o irmão de um amigo. Ganha a causa, ele me procurou para dizer que não poderia pagar os honorários conforme havíamos combinado porque acabara de se separar da esposa e ela ficara com tudo. Devo ter feito uma cara de desanimo muito grande, porque imediatamente ele disse que eu não ficaria sem receber, e me deu dois itens incríveis, um terreno à beira mar e uma metralhadora. Isso mesmo; uma metralhadora. Mas não pensem nessas armas de cinema, era uma metralhadora artesanal. Eu tive tanto medo de ficar com aquele objeto que no dia seguinte dei de presente a um Delegado amigo.
O terreno, ao contrário, era excelente. Localizado à beira mar de uma praia ainda deserta, padecia somente de não ter luz ou agua. Mas era um tremendo investimento, principalmente para mim que estava saindo do zero absoluto em termos econômicos. O detalhe era que a área não tinha documentação, funcionava na base da posse e na confiança dos vizinhos. Durante alguns anos sempre que eu fazia planos colocava o terreno como parte importante do meu futuro. Até que um dia um amigo me pediu o terreno emprestado para uma determinada composição, e eu atendi. Isso aconteceu lá por 1995,1996.
Conto isso porque gostaria de saber de meus leitores se acham que o amigo vai lembrar de devolver meu terreno.
1 Comentário
Viuge Tião! Recebe mais não viu. Agora ele tá com usucapião!