Martinho Moreira Franco
Mais que um amigo, perdi uma referência em vivacidade, inteligência, perspicácia e uma certa maledicência que se manifestava na ironia e no humor às vezes cáustico.
Mas Paulo Soares era um humanista. Talvez nem gostasse de ser assim chamado, para não ser confundido com erudito, apesar dos dotes intelectuais expressos na prosa com os companheiros e nas letras com as quais se deu maravilhosamente bem no saboroso “Nos tempos do Pedro Américo”.
Neste livro, aparece o Paulino boêmio das grandes noitadas no bar do título e em outros endereços da boemia pessoense nos anos 1950, 60 e 70. É uma obra antológica. Mas a sua maior obra ele construiu como doutor da medicina, especializando-se na pediatria, em que foi mestre à altura do seu mentor e guru, dr. João Gonçalves de Medeiros. Apanhou com as mãos inúmeras vidas que viram a luz pela primeira vez , e as quais acompanhou do berço à idade adulta, estendendo assistência a inúmeros descendentes.Foi pediatra que paralelamente se tornou geriatra. Na verdade, foi médico para todas as idades.
Deixa órfãos os pacientes, os amigos, a família, a medicina paraibana e as noitadas de João Pessoa. Aos domingos haverá sempre uma cadeira vazia no Cassino da Lagoa. E às terça-feiras, no Bar do Ricardinho, no Jardim Luna..No meu coração, um vazio impreenchível. Chamava-me de “grandão”. Mas foi ele um pequeno grande médico e amigo.
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