Por GILBERTO CARNEIRO
VOCÊ é capaz de perdoar? Vivemos o tempo da Quaresma que representa os quarenta dias que Jesus esteve no deserto, época propícia para a reflexão e para a prática do perdão. Mas perdão não necessariamente precisa vir acompanhado de reconexão. Pedir perdão é uma forma de assumir responsabilidade por nossas ações e expressar arrependimento, mas nem sempre leva à reconexão ou reconciliação com a pessoa que nos magoou ou que magoamos. Às vezes, mesmo após um pedido de perdão da sua parte ou de alguém para com você, é importante respeitar os seus limites ou da outra pessoa e aceitarmos que o perdão não garante automaticamente uma relação restabelecida, pois as circunstâncias, os sentimentos das pessoas envolvidas podem impedir uma reconexão saudável.
Logo, é fundamental respeitar os processos individuais de cura e dar espaço para que cada pessoa decida como deseja proceder após uma situação difícil. O perdão pode ser um passo importante para o crescimento pessoal e a paz interior, independentemente do resultado em termos de reconexão com os outros. Quando perdemos a confiança ou quando os danos emocionais são profundos, o perdão pode não resultar na restauração da relação e será compreensível se não houver uma ambiência para uma reaproximação.
Às vezes, é necessário aceitar que as pessoas podem seguir caminhos diferentes após um conflito, e isso não invalida a importância do perdão para o processo de cura individual. Nas sábias palavras do Diácono Gleen Borba: “o perdão pode ser uma jornada pessoal que nos permite liberar ressentimentos do resultado da relação. É sobre encontrar paz dentro de nós mesmos, mesmo que isso signifique seguir em frente sem a reconexão que esperávamos”.
O perdão é acima de tudo uma libertação para quem perdoa. Pouco importa se o perdoado levou a sério o perdão, o que realmente importa é que você se liberta dos grilhões do rancor e do ódio que o sufocam e o fazem sempre olhar para trás, nunca para a frente. A prática do perdão o faz olhar para a frente, podendo manter a indignação, mas nunca o ódio e a vingança como vetores determinantes em seu processo de superação.
Mas o exercício do perdão não é apenas uma questão de data, não é porque estamos na Quaresma que o perdão deve ser exercido tão somente pela razão de estarmos na Quaresma. Antes de tudo é preciso leveza na alma, e mesmo que o perdão não estabeleça uma reconexão com o perdoado, você precisa estar espiritualmente preparado para perdoar.
É como o jejum quaresmal: – Comam o que quiserem na Páscoa, o sacrifício não está no estômago, mas no coração. Muitos abstém-se de comer carne, mas não falam com os irmãos ou familiares, não vão visitar os pais ou pesa-lhes atendê-los. Não partilham comida com os necessitados; netos não visitam os avós, criticam a vida dos outros, espancam as mulheres, pré-julgam as pessoas. Um bom churrasco ou um guisado de carne não vai fazer de você uma pessoa ruim, assim como um filé de peixe não vai fazer de você santo. A melhor das atitudes é ter um relacionamento mais profundo com Deus através de um tratamento melhor ao próximo. Sejamos menos soberbos e mais humildes de coração. A mensagem é do Papa Francisco, com toda a sabedoria que lhe é peculiar.
Um amigo sempre faz abstinência do álcool no período quaresmal, mas o período de privação dele é diferente dos demais, que geralmente encerram o jejum no Sábado de Aleluia, enquanto o dele se encerra bem antes, no Domingo de Ramos. Quando o questionei sobre esta antecipação, se não seria uma burla ao jejum, respondeu com um ar de sabedoria digno dos mais sábios sacerdotes. – o que representa a Quaresma? Os quarenta dias que Jesus passou no deserto. Apressa-se em responder. – foi o período que Jesus mais sofreu e é quando sofro também. Quando Jesus saiu do deserto ele foi para aonde? Pergunta e mais uma vez ele mesmo responde. – entrou triunfante em Jerusalém e após sua pregação tomou vinho com seus apóstolos – finaliza erguendo a taça.
Bom, quem sou eu, para questionar os conhecimentos bíblicos do meu amigo Adriano.
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