opinião

O PODER É EFÊMERO

26 de maio de 2024

 

RAMALHO LEITE 

 

Tem gente que fez na vida pública uma

carreira brilhante e constante. Ouvi de Ernani

Satyro, num rasgo de modéstia, que a dele

não era brilhante mas era constante. A minha

não é brilhante nem constante. Registrei altos

e baixos. Conquistei mandatos e amarguei

suplências. Estive no poder e fora dele, muito

mais tempo fora. Esse tobogã que me acompanha

deixou lições que muitos precisam

aprender.

 

No poder ninguém escapa do assédio

e dos rapapés. Basta você ficar distante do

centro das decisões que mergulha no esquecimento.

Pedro Gondim, cassado, só ia a

enterro, por que não precisava de convite,

proclamava.

 

O finado Judivan Cabral dizia que tinha

gente que não sabia viver longe do poder.

Esses, quando caem, dizia com muito humor,

sofrem tanto que chegam às raias da depressão.

Aprendi, porém, desde cedo, que só existe

um poder eterno – o Divino. Na terra, todos

os eflúvios de força política ou administrativa

são efêmeros. Quem pensar diferente tende a

sofrer decepções.

 

Para mim, portanto, tanto faz estar no

alto como na planície. Mantive sempre um

comportamento igual em circunstâncias diferentes.

Sobrevivi na oposição e nunca aderi

a governo algum. Estive no poder e dele saí

quando o povo quis. Uma única exceção foi quando a

Justiça Eleitoral me colocou

na oposição ao cassar o mandato de Cassio Cunha Lima. Nunca me entusiasmei com cargos

ou posições. E lembro que até banqueiro

eu já fui.

 

Um  governador dos paraibanos recomendou

a seus auxiliares em reunião:

aqui não quero ninguém deslumbrado. Deslumbrado,

minha gente, significa entre outras

coisas desligar os telefones e não retornar as

ligações; receber mensagens e não responder;

deixar seus visitantes na sala de espera e sair

pelos fundos ou entrar no veículo e não cumprimentar

seu próprio motorista. Ficar deslumbrado

inclui, também, eliminar o sorriso e

fechar a cara como se todos os problemas do

Estado estivessem, exclusivamente, nas suas

costas.

 

Quem está eventualmente no governo

tem que entender que está em posição destacada,

mas sua designação resultou de um

processo longo e sofrido, onde prevaleceu a

vontade da maioria. Essa maioria deu o poder

de nomear a um governante e ele escolhe os

nomes que bem entender, elegendo critérios

os mais diversos. De nenhum governante

partirá jamais a recomendação de que seus

prepostos sejam desatentos com simples

cidadãos ou lideranças que os procuram.

 

Muitos se satisfazem apenas com uma palavra

de conforto. Poucos pedem para si. A maioria

reivindica para o aglomerado que representa.

Eis uma advertência oportuna: não existe

vigário colado. Os cargos são eternos, mas seus

ocupantes são passageiros. Não há força que

não acabe e poder que não se desfaça. Não nos

deixemos iludir com a liturgia do cargo.

 

Já contei essa história, mas não custa

repetir. Era diretor do Banco do Nordeste e

quando chegava à Paraíba tinha que escolher

entre os muitos chamados para jantar.

Quando deixei o Banco, escolhi um dos meus

mais assíduos comensais e convidei para um

almoço, advertindo antes: desta vez, quem

paga sou eu! Nem assim o meu convidado

apareceu. Precisamos cumprir a recomendação que lembrei acima:

Todos ao trabalho e nada

de deslumbramento.

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