Por GILBERTO CARNEIRO
VOCÊ leitor, qual seu conceito de felicidade? Você é alegre ou feliz?
Existem basicamente duas teses que procuram explicar a felicidade, senão ela, ao menos a sua busca. Uma se apega ao modelo tradicional: “e foram felizes para sempre”. A outra se sustenta na efemeridade da felicidade: “a alegria não faz morada em nossos corações, ela faz visitas”.
Logo, fim de filme e a famosa frase surge na tela: “e viveram felizes para sempre. Fim”. Esse padrão nos filmes de Hollywood e novelas, característico do modelo econômico capitalista ocidental, implantou uma crença perigosa no inconsciente coletivo, incutindo na mente das pessoas que é possível viver a felicidade permanente ao atingir objetivos grandiosos. E enquanto o conto de fadas não se concretiza, muitos vivem: “infelizes para sempre”.
A ideia de “felizes para sempre” é uma ilusão, uma cilada, porque na medida das conquistas dos seus sonhos você aumenta seus desejos. Quando buscamos a felicidade e pensamos que a alcançamos, seu significado muda. E começamos a persegui-la novamente, isso porque a busca pela felicidade evolui com a idade.
Quer ver só? Pense em algo que você queria muito e conseguiu conquistar. Um carro, um emprego, uma casa. Qual a sensação experimentada depois? Ficou feliz, mas logo a sensação de felicidade cedeu lugar a novos desejos? Trocar o carro, a casa e até o emprego? Pensou? É isso, né? O prazo de validade da felicidade expira rápido, pois a felicidade nada tem a ver com o tamanho dos nossos sonhos ou com a fase de vida. Ela é fluída e aquilo que nos torna felizes muda ao longo dos tempos.
Aqui no ocidente, associamos a felicidade à ideia de termos sucesso e realização pessoal, por isso estamos constantemente insatisfeitos e ansiosos. Qual a lógica? o primeiro protótipo traz infelicidade e não felicidade.
Já no leste asiático, as pessoas associam a felicidade com a ideia de comunidade e harmonia social, até porque o conceito de felicidade é definido pela cultura de um povo.
Lembra da bíblia? No início, as tribos de Israel, com mentes e corpos marcados pelas estruturas opressoras cananeias e egípcias, visando eliminar as grandes desigualdades sociais que haviam sofrido, vão desenvolver seus laços de solidariedade e princípios éticos, procurando constituir sociedades sem concentração de terras, de poder e de riqueza. As tribos viviam sem reis, eram formadas por associações de famílias nas quais deveriam predominar as relações de solidariedade, ajuda mútua e justiça social, uma sociedade de defesa e promoção da vida para todos. Ninguém passava fome e todo mundo desfrutava dos mesmos prazeres e dissabores, todos se ajudavam. Mas depois vieram os REIS. Saul foi o primeiro, depois Davi e na sequência Salomão. E então foram perecendo os princípios de solidariedade e harmonia, até que veio Jesus Cristo e restabeleceu esses valores. Passados mais de 2000 anos da sua ressurreição faz necessária a sua volta para ressignificar esses conceitos.
Karl Marx, considerado um herege, fez pela humanidade mais que muitos gênios. Suas teses tinham mais a ver com os princípios pregados por Jesus Cristo que os dos fariseus, quando defendia: “o trabalho é a fonte de toda riqueza e de toda a cultura, e como o trabalho produtivo só é possível na sociedade e pela sociedade, o seu produto pertence integralmente por direito igual, a todos os membros da sociedade”.
A pesquisadora das emoções, Paula Roosch, uma profissional renomada no estudo da inteligência emocional e empatia, revelou: “uma das experiências que lhe fez perceber o sentido da felicidade genuína, uma viagem ao Quênia, país africano, aonde viu a ideia da felicidade associada com o carpe diem, com o desfrutar do que se tem hoje. Tem a ver com sentir necessidades preenchidas, as mais simples, pois quanto mais a cultura estimula a gente a não se sentir preenchidos, mas infelizes ficamos.” Todavia, ouso discordar em partes da pesquisadora. A felicidade não passa, necessariamente, pelo acúmulo de bens materiais, mas tão pouco passa pela total ausência deles, principalmente de itens básicos como alimentação. A satisfação por estar desfrutando um prato de comida depois de passar fome não é felicidade, é um estado efêmero de alegria que nenhum ser humano no mundo deveria ter de passar por isso, afinal como cantou Titãs: “a gente não quer só comida; a gente quer comida, diversão e arte”.
A felicidade é uma consequência, não um fim. Permita-se aprender com todos os momentos, sem expectativas de uma vida perfeita e sem desafios. Isso trará a maturidade para sentir paz constante nas suas escolhas, mesmo em momentos difíceis. Moral da história: a felicidade surge como consequência e não como um fim em si mesma.
Numa linguagem futebolística, alegre é a torcida pó de arroz, afinal o Fluminense ganhou a sua primeira Libertadores; mas FELIZ são os Flamenguistas, bicampeão da LIBERTA e campeão mundial.
2 Comentários
Na minha bíblia, o primeiro rei de Israel foi Saul.
Obrigado meu caro amigo leitor. Graças ao seu conhecimento corrigi um erro.