Marcos Pires
Quando “O livrinho de Marcos Pires” ficou pronto eu estava totalmente liso. Gastara os últimos trocados na editora. Mas tinha esperanças de ficar rico e famoso. Afinal, era o primeiro livro destinado aos futuros advogados, ensinando coisas “muito importantes”, como cobrar honorários, dar más notícias aos clientes y otras cositas más.
Para o lançamento eu arrisquei a parte do meu capital até então intacta, minhas amizades. Consegui convencer o Presidente do Superior Tribunal de Justiça, Ministro Humberto Gomes de Barros, a vir até a Paraíba para lançar, em conjunto com o Livrinho de Marcos Pires, um livro que ele havia escrito recentemente. Aproximando-se o dia do duplo lançamento eu voltei ao Ministro e o convenci de que deveríamos fazer uma venda casada. Mais ainda, combinamos que eu apresentaria o livro dele e ele apresentaria o meu livro.
Portanto, sem gastar um tostão, eu conseguira que o Ministro Presidente do STJ fizesse a apresentação do meu livro e ainda desse um empurrão enorme nas vendas, afora evidentemente uma belíssima festa que contou com a presença das mais expressivas personalidades do mundo jurídico.
Terminada a solenidade, houve um coquetel e discretamente eu convidei o Ministro e sua esposa para irem jantar comigo e mãe Leca no restaurante Gulliver. Seriamos só os dois casais, oportunidade na qual eu prestaria a ele as contas dos livros vendidos e repassaria a grana apurada.
Tão logo chegamos eu informei que o faturamento fora de 5 mil reais, sendo que para cada um de nós tocaria a metade. Entreguei a parte do Ministro e brindamos o sucesso com um uísque Gold.
Mas de repente eu notei que os presentes à solenidade da Fundação José Américo estavam chegando maciçamente ao restaurante, bebendo e comendo nas mesas vizinhas. Eles pensaram que o jantar fazia parte da festa e no final chegou a conta de 6.200 reais que eu o Ministro tivemos de dividir. Saímos com um prejuízo de 600 reais cada um.
Pro resto da vida ele recordava o fato: “-Olha só o que é amizade. O Marcos me fez ir à Paraíba para ajudar a vender o livrinho dele e ainda tive que pagar a conta do restaurante. Mas gosto demais dele”.
Um homem desses tem que estar no melhor lugar do céu.
Quanto ao meu livrinho…ainda não foi dessa vez que fiquei famoso e rico.
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