Marcos Pires
Ao longo do tempo os mais importantes cientistas do mundo visitaram o Brasil e deixaram registradas suas impressões. Vale a pena revisitar essas opiniões.
Começo com o Doutor George Gamow, físico russo que esteve no Brasil para dar algumas palestras em 1939 na sua área de especialização. Só que o russo descobriu os encantos do cassino da Urca e varava madrugadas nas mesas de roleta. Ninguém entendia como o professor conseguia sair do cassino ao amanhecer e logo depois fazer as tais palestras. Apesar da boemia o homem era fera. Seu trabalho ajudou a criar a teoria do Big Bang. Numa conversa com o recifense Mario Schemberg, seu amigo, disse que chegou à relação dos neutrinos com explosões estrelares lembrando-se das apostas no cassino da Urca: “-Bem, a energia está desaparecendo do centro da supernova com a mesma rapidez com que o meu dinheiro sumia naquela mesa de roleta”.
O pai da teoria da relatividade também esteve aqui. Chegou em 1925, depois de já ter recebido seu prêmio Nobel. Foi um alvoroço na mídia. As manchetes eram do tipo: “Einstein comeu ontem vatapá com pimenta”. Sofrendo com o calor carioca ele disse que o Brasil era quente e úmido demais para se efetuar qualquer trabalho intelectual. A coisa piorou quando foi fazer sua primeira palestra no Clube de Engenharia. Superlotado, o ambiente era uma sucursal do inferno. O físico suava por todos os poros e a irritação aumentou ao ver que na plateia não existia qualquer cientista, só políticos acompanhados das esposas e filhos, ávidos por fotos com ele (pré-selfies). Quando os bebês começaram a chorar ele deve ter se arrependido da viagem. “As pessoas lá são vazias e pouco interessantes-mais ainda do que na Europa”, disse o querido Albert.
Agora, porrada mesmo quem deu foi Charles Darwin. A chateação começou quando saiu à rua numa segunda feira de carnaval e os foliões jogaram baldes de água nele. Posteriormente, tendo que perder um dia enfrentando a nossa burocracia numa repartição pública, desabafou: “- Nunca é agradável submeter-se à insolência de homens de escritório. Os brasileiros são tão desprezíveis mentalmente quanto são miseráveis suas pessoas”. No entanto, o que mais chocou-o foi o espetáculo da escravidão, então vigente aqui. Na saída registrou que dava graças a Deus por ir embora e esperava nunca mais visitar um país escravagista.
Mas vamos à parte boa. Richard Feynman que recebeu o Nobel pelo desenvolvimento da eletrodinâmica quântica adorou o Brasil. Foi recepcionado por Cesar Lattes que lhe perguntou se ele já conseguira um dicionário de paquera. O cara era do balacobaco. Apaixonou-se pelo carnaval e passou a integrar uma escola de samba onde tocava com maestria uma frigideira. A tal escola inclusive ficou em primeiro lugar no carnaval e o gringo estava lá, no meio do desfile, fantasiado de grego antigo. Veio algumas vezes ao Brasil desde 1949 até 1966 e sempre dava um jeito de alternar suas palestras científicas com bailes de carnaval e desfiles de escola de samba.
Tornei-me seu fã.
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