O resto é acessório

A medicina hoje está muito adiantada e uma cirurgia de hérnia se tornou coisa banal. No tempo de Padre Maia isso não existia. O pobre teve uma hérnia nos ovos e morreu com aquele pacote enorme no entrepernas. Parecia uma bola de futebol de salão.

Houve um senador, rico e poderoso, que também ficou famoso por estas plagas pelo tamanho do ovo.

Chamavam-no de “Senador do Ovão”, mas agora, dizem, ele tirou o mostrengo e botou no lugar duas bolas de gude. Ficou uma gracinha.

A hérnia do presidente é na subida do bucho, quase chegando à boca do estômago. Por ela escapava uma parte do fato, formando aquela bola redonda, com cara de umbu cajá.

Diz o médico que quando ele sair da mesa de operação terá um corpo de garoto, todo sarado, sem catombo a intermediar a sua protuberância. E vão botar uma placa de acrílico entre o couro do bucho e o couro da tripa, impedindo, assim, a invasão alienígena.

Isso é que é uma beleza. Beleuza de Creuza.

Pena que nem todo mundo tenha essa sorte.

Padre Maia não teve, o senador só a teve depois da fama de ouvudo e meus amigos lá da Manzuá do Geisel vêem o bucho crescer, cobrir os pissuídos e encostar no joelho, sem que apareça uma alma caridosa para lhes devolver a antiga formosura.

Os coitados nem amor conseguem fazer mais. A não ser que apelem para a posição de bandinha, com uma corda amarrada abaixo do umbigo para subir os intestinos na hora do pega pra capar.

Mas eles não reclamam. Tendo a papuda para anestesiar as lembranças, o resto é acessório.