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O SÃO JOÃO

2 de dezembro de 2022

A primeira festa de São João vista pelos olhos do menino foi a dos foguetões subindo aos céus e a dos mosquitos correndo entre os homens e mulheres espalhados pela extensa rua dos pobres.
E tudo aquilo tinha cores de encantamento.
Outras imagens se somaram ao longo dos anos.
Vieram os balões multicores, os fogos de lágrimas, as bombas de parede, as rodas de fogo e os moleques pilando caroços imaginários nos pilões de sonhos.
E surgiram os bailes, os forrós pé de serra, as festas dos ricos nas palhoças das praças e os bolos doces dos pobres nos cubículos das pontas de rua.
Imagens se multiplicaram, se embaralharam e confundiram a cabeça do menino que se fazia moço.
E seguiram-se os namoros, os compadrios ao pé da fogueira, as primeiras bicadas de cachaça, os primeiros pecados e as primeiras saudades.
A imagem de Padre Maia, um velhinho alquebrado que se tornava gigante para percorrer as fogueiras da cidade e conta-las uma por uma, marcaram as lembranças indeléveis do moço que se tornava adulto.
Acompanhada dos gritos de Parajara e Cícero Marrocos marcando as quadrilhas dos Nominando e dos Pereira ao som dos afrancesados “anarriés”.
Até que chegou o dia de tudo isso se tornar lugar comum e perder a graça, graças às facilidades patrocinadas pelos dias modernosos da internet e dos celulares que desnudavam segredos e não mais valorizavam o “eu te amo” e o “me escreva uma carta”.
Um lugar comum engolido pelo traiçoeiro vírus que nos devolve ao status quo de sentir falta das cartas, dos bilhetes, dos abraços e dos aconchegos.

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