O São Pedro de Pedro Fogueteiro

O São Pedro começava com os pifeiros de Jericó fazendo a alvorada na Rua do Cancão. Não lembro o hino que tocavam, só sei que os pífanos soavam alto, acompanhados pelo cabaçá que depois ganhou o nome de zabumba e pelos pratos tocados por um moreno de chapéu de masssa e de voz gasguita.

Seu Nenéa era o maestro e ao lado dele tocava um senhor vermelho, quase sarará. Eles entoavam os cânticos religiosos devidamente escolhidos por Carmélia Grossa, e nós, os meninos, os acompanhávamos soprando em pífanos imaginários.

Pedro Fogueteiro e Carmélia eram transformados nos donos do Cancão. Naquele São Pedro, que era também o aniversário de Pedro Fogueteiro, os dois reinavam, casavam e batizavam.

Naquele tempo, que já faz muito tempo, Princesa era uma cidade elitista, que se dividia entre os que eram da alta sociedade e os que não eram. Os que não eram recebiam o lúgubre nome de “tái de faca”, e os que eram recebiam a outorga de ricos, quando na maioria das vezes nem ricos eram.

Por isso não iam ao Cancão ver a festa de Pedro.

E não sabem o que perderam.

Pedro enfeitava a rua com seus bonecos. Os que batiam o pilão eram as principal atração da meninada. Como era possível dois bonecos, montados num pau de agave, baterem pilão no meio de uma roda de fogo?

Paralelo a isso, havia o famoso lanche de bolo com café. Meu pai descia à Rua Grande, comprava um bolo enorme na banca de Cecília Mandaú, levava-o à mesa enfeitada com xícaras, pratos e colheres de variadas cores e a meninada se lambuzava.

Isso acontecia depois da festa de Pedro e da derradeira tocata do Cabaçá de Seu Nenéia do Jericó, aquela que falava da “minha santa beata Mocinha…”