Miguel Lucena*
Uma deputada governista disse esta semana que os militares, tanto os das Forças Armadas quanto os das polícias estaduais, merecem tratamento especial na Reforma da Previdência porque trabalham no sol, ao contrário dos policiais federais, rodoviários federais e civis, que vivem no ar-condicionado.
Na mesma noite em que ela engulhou essa fala, fui dormir à meia-noite, me acordei às 2h30, participei de uma reunião às 4h e às 4h30 segui para uma operação policial em Luziânia, enquanto outros colegas partiram para Goiânia/GO e Campinas/SP, com o objetivo de prender membros de uma organização criminosa que desviou R$ 7 milhões do Consórcio Corumbá III, do qual a Companhia Energética de Brasília (CEB) é acionista majoritária.
A Polícia de Investigação trabalha em todos os lugares, as pessoas é que não percebem. Os policiais não têm hora de voltar para casa. As campanas duram noites e dias. Muitos casamentos se acabam. Em 2000, um agente da DTE II/PCDF virou carroceiro para desmantelar um grupo criminoso de tráfico de drogas e receptação de produtos roubados e furtados em uma favela do Distrito Federal.
Os mandados de prisão e busca e apreensão, após requeridos pelo delegado e deferidos pelo Judiciário, com parecer do Ministério Público, são cumpridos nos mais diversos lugares pelos policiais federais e civis. Muitos são recebidos a bala. Nas cadeias, quem corre todo o risco são os agentes penitenciários.
Os militares brasileiros, não obstante os relevantes serviços prestados à Nação, enfrentam guerras de tempos em tempos. Da Guerra do Paraguai para a Segunda Guerra Mundial se passaram mais de 60 anos. Que eu saiba, os gabinetes dos quarteis funcionam com ar-condicionado também. No entanto, em alguns cafundós há delegacias que funcionam em casas caindo aos pedaços, escoradas por cupins.
Não defendo privilégio de ninguém, mas entendo que, em havendo tratamento diferenciado para militares, não há por que não estendê-lo às demais forças públicas de segurança, sob pena de estabelecermos regime militar em pleno governo civil. Em pouco tempo, não haverá estímulo para ingresso em uma carreira perigosa em que, se não morrer cedo, o policial ficará idoso correndo atrás de criminosos sarados.
*Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.
2 Comentários
Não sei qual é a entidade policial mais merecedora de ficar de fora da reforma que o capitão julga ser ótima e que vai favorecer o trabalhador, quem irá sofrer é a classe média, fico imaginando um gari correndo atrás de um caminhão com 40 anos de contribuição, ou um chapa descarregando uma carreta de cimento, ou o professor gagá dando aulas e ainda aturando os alunos mal educados, a reforma é ruim pra todos a do Temer que o capitão vetou era menos cruel.
Dr Miguel Lucena sabe que não tem comparação a Polícia Civil e Militar, que se passar uma hora do plantão recebe extra. Nas FFAA o.militar sai de serviço e cumpre expediente normal. Quanto a guerra é melhor ficar apenas nos treinamentos, mas não justiça se necessário serem chamados e não estarem preparados. Concordo plenamente que deveriam ter o mesmo tratamento, mas com as mesmas especificidades, só assim não se ouvia em delegacias, que acabou o expediente vai procurar outra delegacia de plantão. Uma diária da Força Nacional é 550,00 reais de um graduado das FFAA é 82,00 reais. Um plantão na Polícia é geralmente 24 por 72 horas de descanso, nas FFAA e obrigatório sem descanso.