Por GILBERTO CARNEIRO
Você, caro leitor, deve ter ouvido a frase acima em muitas oportunidades. Magnânima não é?
O Trabalho é uma necessidade do ser humano ao lhe proporcionar fortalecimento do sentimento de utilidade; fornecimento do sustento, geração de aprendizado constante, aumento da autoconfiança, ocupação da mente e melhora da autoestima ao possibilitar conexão com outras pessoas.
Segundo o IBGE, o país fechou o quarto trimestre do ano de 2022, com 8,6 milhões de desempregados. Pela metodologia do Instituto desempregado se refere a pessoa com idade para trabalhar (acima de 14 anos) que não está trabalhando, mas está disponível para o mercado de trabalho.
Logo, o trabalho dignifica o homem, mas desde que seja com dignidade. Quem explora e escraviza trabalhadores, quem contrata apenas enxergando o lucro fácil gerado pela força de trabalho sob a falsa premissa de estar gerando emprego não contribui para a pacificação social, ao contrário, fomenta a crise social.
Neste contexto causou indignação a constatação por parte do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), de 207 trabalhadores baianos em vinícolas de Bento Gonçalves (RS) em regime análogo à de escravidão, quando segundo seus relatos, eram extorquidos, ameaçados, agredidos e torturados com choques elétricos e jatos de spray de pimenta.
No entanto, a estupefação com os fatos ganhou relevo apenas quando vieram à tona as falas do vereador Sandro Fantinel (Patriota), de Caxias do Sul, na Serra Gaúcha, ao pedir da tribuna da Câmara Municipal para que “não contratem mais aquela gente lá de cima”, sugerindo que os empresários gaúchos optassem por trabalhadores vindos da Argentina porque seriam “limpos, trabalhadores, corretos” e que “a única cultura que baiano tem é viver na praia tocando tambor”.
A situação revela de forma inexorável que o trabalho escravo permanece nas entranhas brasileiras. Chamar o baiano de festeiro e o argentino de limpinho é deixar nas entrelinhas que o branco é superior ao preto. E, como diria o influencer Negão da BL, “não adianta mentir, o racismo não vai acabar nunca”.
Em referência ao título deste texto nunca é por demais lembrar, como escreveu Jairo Malta, que é preciso um conhecimento histórico e verdadeiro da etimologia de frases e chavões que passam a impressão de ser saudáveis para o ambiente, porém deturpadas e abusivamente usadas por ultraconservadores empenhados em interditar todo debate sobre as marcas deixadas na língua por séculos de preconceitos.
No portão de entrada de Auschwitz, a frase “o trabalho liberta” dava a ilusão de que, para homossexuais, testemunhas de Jeová, ciganos e a grande massa judaica que era levada até lá, bastava trabalhar para serem libertados. O fim dessa história sabemos muito bem. Um dos vários argumentos dos nazistas era o de que as vítimas deportadas para o campo de concentração polonês eram preguiçosas e antissociais
1 Comentário
Excelente reflexões, Gilberto…