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O TRABUCO VENCEU A LEI

14 de março de 2021

 

RAMALHO LEITE

“Deus não permitirá a vitória do trabuco sobre a lei”(João Pessoa)

A minha narrativa sobre os acontecimentos que culminaram com a morte do presidente João Pessoa, prende-se mais à forma como essa infausta notícia foi recebida fora dos limites paraibanos. Já vimos como o povo gaúcho, com Getúlio Vargas à frente, foi surpreendido. Interessa-me agora registrar, como o outro parceiro da Aliança Liberal, o estado de Minas Gerais reagiu ao sacrifício de João Pessoa, naquele 26 de julho de 1930. Logo às primeiras horas da noite daquele sábado, 26 de julho, a notícia chegou às alterosas por via telegráfica. Abalada com o fato, a população mineira começou a se aglomerar nas principais praças à procura de notícias mais detalhadas do grave acontecimento.
O governo, reunido com todo o secretariado, tinha o mesmo objetivo: aguardar maiores esclarecimentos. João Pessoa fora o candidato a vice-presidente de Getulio e seu nome, mesmo derrotado, permanecia ativo nas mentes dos brasileiros que desejavam mudanças revolucionárias na política nacional. Getulio Vargas no Rio Grande, Antonio Carlos, em Minas e João Pessoa, na Paraíba, formaram a tríplice aliança na busca de um novo horizonte para o Brasil. A máquina governista, porém, conseguira se impor e elegera o paulista Julio Prestes. A morte de João Pessoa seria a bandeira a impulsionar as mudanças pregadas pelos conspiradores, ávidos por derrubar o governo de Washinton Luiz.
Antes, porém, era preciso manter acesa a chama e, o sangue de João Pessoa, seria o combustível ideal para abastecer a vontade dos que ainda teimavam em se manter longe da conspiração. Em Minas, o governo mandou publicar a seguinte nota: “O Governo do Estado de Minas Gerais, considerando que o bárbaro assassínio de que acaba de ser victima o presidente João Pessoa constitui motivo da mais justa e vehemente mágua para quantos, cultuando a Republica e a Federação, amam devotadamente a pátria brasileira; considerando que o povo mineiro, pelos seus sentimentos e ideaes, se vinculou a tão insigne personalidade por laços de profunda amizade e admiração; considerando o seu heroísmo, na defesa da autonomia da gloriosa Parahyba, e, portanto, na defesa do princípio federativo, base da organização política da pátria, a cujo serviço se sacrificou até o martyrio, resolve, como expressão de máxima dor e tributo de homenagem a sua imperecível e excelsa memória, decretar luto por três dias em todo o território mineiro”(“O Minas Gerais”/A Noite, Rio, 28.07.1930).(mantive a grafia da época)
A praça da Liberdade, em Belo Horizonte, foi o palco do encerramento de passeatas, coroadas com discursos inflamados dos partidários da Aliança Liberal. Faziam coro aos jornais mineiros, que fizeram circular edições especiais e registraram que “desapparece a mais notável personalidade política revelada no paiz nos últimos tempos”(O Minas Gerais). No domingo de luto que se seguiu à morte de João Pessoa, os cinemas e outras casas de espetáculos mineiros cerraram suas portas em homenagem à memória do presidente da Parahyba. As forças militares e policiais entraram em rigorosa prontidão. O governo federal determinou o envio de tropas federais para a Parahyba. Era tarde demais para João Pessoa. Serviu, porém, para encerrar o conflito de Princesa, cujo “território livre”, então, passou ao controle do exército brasileiro, sem ingerência, porém, nos assuntos político-administrativos do Estado, em respeito à sua autonomia, como registra Álvaro de Carvalho, sucessor de João Pessoa. Morto João Pessoa, “o trabuco venceu a lei”.

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