RAMALHO LEITE
Tenho testemunhado com tristeza a retirada de homenagens a vultos do passado, substituídos por gente do presente. Há algum tempo, por questões ideológicas, levantou-se a tese de que deveriam ser substituídos por outros, os nomes de generais que, no governo, beneficiaram nosso Estado e receberam como gratidão a perpetuidade de seus nomes em obras públicas. Nesse rol, estariam os ex-presidentes Geisel, Castelo Branco e Médici entre outros menos votados… O movimento arrefeceu e, apenas, o presidente Médici caiu do frontispício de uma escola onde foi entronizado o presidente João Goulart. Não julgo o mérito da homenagem. Cada qual, no seu tempo, virou estrela de primeira grandeza na constelação brasileira.
Sou daqueles que acham que a história de cada homem público é produto da sua obra. Às vezes, as circunstâncias de sua morte, sob emoção, incrementa a homenagem. É o caso de João Pessoa, quando o povo, ainda sob forte comoção, pressionou a Assembleia a votar e, ao presidente Álvaro de Carvalho a sancionar, a mudança do nome da Parahyba. Aliás, o mesmo Álvaro quase foi crucificado quando vetou o Nego na nossa nova bandeira, veto derrubado pela Assembleia. Ainda hoje se discute essa mudança e a nossa Constituição prescreve um plebiscito sobre o assunto.
O marechal Almeida Barreto, herói da Guerra do Paraguay, parceiro de Deodoro no golpe que derrubou a Monarquia e senador pela Parahyba, deixou recentemente de ser patrono de uma escola. No seu lugar, uma lei o substituiu pelo deputado Genival Matias. Claro que o deputado é merecedor de todas as homenagens da sua terra natal, mas precisava destronar o marechal? Por outro lado, já não tenho o que dizer quando o presidente Kennedy, em Guarabira, saiu de uma escola para dar lugar a Zenóbio Toscano. Kennedy nada tem a ver com a terra de Zenóbio. Mas o marechal faz parte da nossa história.
Com a reforma do Parque Solon de Lucena, a mídia, não sei se com recomendação oficial, passou a chamar o logradouro de Parque da Lagoa. Justamente no ano em que o governo do Presidente Solon completa cem anos do seu início. Homenagem agora tem prazo de validade? Em Manaus, uma escola pertencente a uma entidade filantrópica recebeu auxilio do então deputado federal Solon de Lucena. Depois, essa escola foi encampada pelo estado e hoje é um estabelecimento de segundo grau da capital do Amazonas. Seu nome permanece o mesmo: Escola Estadual Solon de Lucena. A cidade de Conceição merecia ser chamada de Wilson Braga, um filho que a amava muito e fez tudo que esteve ao seu alcance, pelo seu desenvolvimento. Precisava colocar seu nome, justamente na avenida que se chamava Solon de Lucena?
O imortal Maurilio Almeida sempre que conversava comigo insistia que alguns nomes de rua em Bananeiras deveriam ser substituídos. Sua avenida principal chama-se coronel Antonio Pessoa, cuja única ligação com Bananeiras era sua amizade com o primo Solon de Lucena, que o chamava de Tonico. Mas, figuras da nossa história tem seus nomes nas placas de ruas: Quintino Bocaiuva, Benjamim Constant, Floriano Peixoto, Marechal Deodoro. Os ilustres bananeirenses do nosso tempo estão jogados na periferia. Sempre resisti a essa tese de substituir os nomes da nossa história por outros defuntos mais recentes. Por isso, minha casa em Bananeiras continua na avenida Barão do Rio Branco. Na cidade não existe uma única rua, um beco, com o nome do Barão de Araruna, que é da terra. Seu filho, o comendador Felinto, mereceu melhor tratamento.
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