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O ÚLTIMO PERREPISTA

25 de setembro de 2022

Ramalho Leite

Nascido em Princesa Isabel e sobrinho do famoso coronel José Pereira Lima, chefe do Governo Provisório do Território Livre de Princesa, o jornalista, escritor e publicitário Otavio Sitônio Pinto, em seus escritos, nunca esqueceu suas origens. Os vitoriosos contam sua versão da história, os perdedores costumam omiti-la. Sitônio, porém, nunca deixou de expressar publicamente seu pensamento.

Semanalmente, nos últimos tempos, ocupava espaço reservado no jornal A União. Suas crônicas traduziam a sinceridade de quem sabia dizer as coisas e não tinham a reserva natural de quem procura esconder a verdade como ela é ou foi.  Pensava e escrevia.

O cronista Luiz Augusto Crispim escreveu sobre sua maior obra: “Dom Sertão e Dona Seca”: “Não me canso de repetir. É livro para se ler em praça pública, em tom de comício…em vez de palanque eleitoral, o povo da Paraíba, em particular, o do Nordeste em geral, devia, todo ano, marcar hora e lugar para ler Dom Sertão e Dona Seca”.

Em mais de quatrocentas páginas, Sitônio discorre sobre a seca a sua convivência com ela em tom de quem entende, vive e apresenta soluções. Suas opiniões eram polêmicas. Dentro do Polígono das Secas, identificou o Semiárido Irregular e proclamou: “falar em irrigação no semiárido irregular, eu puxo a peixeira”. E há quem diga que puxava a peixeira por outros motivos, por seu reconhecido espirito beligerante. Herdou de Princesa?

O livro tem a seca como um fenômeno mais  cultural do que físico. Os subtítulos dessa obra, já nos leva a uma discussão sem fim: A TRANSPOSIÇÃO SÓ INTERESSA ÀS EMPREIRTEIRAS; O NORDESTE FOI O ESTUPIM DE 30; O CANGAÇO ERA EMPRESA ARISTOCRÁTICA. Qualquer desses temas, foram objeto de artigos, ensaios e livros publicados nesse imenso Brasil. As razões de Sitônio Pinto nos indica o caminho para acreditar em todos eles.

Essa sua obra principal, “tão absurdamente pouco lido e, menos ainda divulgado”, no dizer de W.J Solha, prova que o sertão é um paraíso como disse Ariano Suassuna repetindo Euclides da Cunha.

Sitônio fala abertamente tudo que lhe vem à mente. Para ele, “só os sábios e ricos deveriam votar, pois apenas os primeiros são conscientes e só os segundos independentes.” Tem declaração mais polêmica do que essa? Era contra a transposição do São Francisco numa época em que Elba Ramalho quase foi sacrificada nos palcos por defender idêntica atitude.

Sitônio viveu e morreu com suas ideias e paixões. Não se acomodou no silêncio dos covardes. Era parte integrante da parte mais expressiva da história da Paraíba. Foi-se o ultimo perrepista.

 

 

 

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