opinião

O Vereador e o Servidor Que Nada Tinha de Fantasma 

2 de abril de 2019

1BERTO DE ALMEIDA

  SOMENTE AGORA EU VI. Juro. Passou na Rede Globo tupiniquim da Província das Acácias, a Cabo Branco. Semana passada. Vi por ali que um vereador – um apenas?! – contratava funcionários fantasmas e ficava com a maior parte dos salários desses pobres – paupérrimos e todos coniventes – fantasmas servidores. Nem precisa explicar.  Vocês sabem como funcionava.

   O sujeito recebia, por exemplo, R$ 1000, e entregava de bandeja R$ 900 para o “patrão” que, no caso, era o vereador ex-croto. A história é velha. Não faz muito tempo – ou faz? – o mesmo também acontecia numa provinciana cidade que eu conheço muito bem. Os jornais, porém, não falaram. Nem a TV mostrou.

  Tem mais: o fantasma contratado, infelizmente, não foi à imprensa. Mas, se assim não o fez, foi porque o vereador ex-croto bateu pino. Foi assim: ele viu que iria perder o bonde, a esperança e o mandato falou baixinho. Talvez mesmo não perdesse nem um dos três. Afinal, alguns colegas seus, acredito, navegando no mesmo navio de ratos, não votariam pela sua condenação.

  Mas o servidor contratado, que não era tão fantasma assim, pois lhe servia de motorista e “empregado da casa”, tudo fazendo para a madame e esposa do ex-croto vereador, eternamente revoltado pelo fato de receber uma porrada e ter que devolver, por medo de uma exoneração, 90% do seu – dele, era dele mesmo – da porrada recebida, resolveu dar um grito de liberdade:

  – “Tá errado! Se eu recebo em meu nome, o contracheque está em meu nome, declaro na minha renda o recebido e assumo o imposto, então nada mais natural que ficar com o dinheiro que é meu!”

 Um raciocínio de que pensa em carne e osso. Nada de fantasma.

 Não demorou muito para que o seu “grito de alforria” desse resultado. Mas, ressalte-se, a ideia não partiu do pobre e conivente servidor do vereador ex-croto: foi a mulher.  Todo bom servidor fantasma – esse que na verdade não era, como falei ai no comecinho,- tem sempre uma mulher em carne e osso “curiando” as coisas suas, isto é, dele. E foi assim, “curiando”, que descobriu que o marido recebia uma porrada, mas para a surpresa sua, isto é, dela, só deixava uma merreca em casa, para a feira e pagamento dos bicos de água e de luz.

  – Como pode, perguntava aos seus – dela –  botões do vestido de chita, ele receber uma porrada dessa e deixar apenas essa porradinha em casa?!

 Assim, sem dó nem piedade, ela apertou e o servidor fantasma que não era fantasma, mas o seu marido em carne e osso, confessou-lhe o crime que lhe empobrecia:

 – Recebo isso mesmo, meu bem!  Mas fico apenas com dez por cento!

 –  E o resto? !

 Perguntou—lhe a mulher mais puta da vida do que nunca:

 – O resto fica com ele, com o sacana que me explora!

  Respondeu quase aos prantos. 

 – Pois é. A partir de agora quem vai ficar com esse dinheiro sou eu! E se ele espernear, você vai à polícia!

 A polícia, para encerrar a história, ele nunca foi. Mas não ficou na mão do vereador sacana. Foi ao cartório e registrou o fato. Em seguida, pegou a cópia do registro feito, e entregou ao ex-croto. Deus do céu! Foi aquele arranca-rabo da “mulesta dos cachorros”. 

 Depois dessa, o sacana do vereador que já era – e continua –  amarelo por vida, amarelou mais ainda. Estrebuchou, meteu o rabo entre as pernas e pernas pelo rabo, com aquele de “não estou nem aí” só frouxidão, ameaçou chamar o ladrão e, se preciso fosse, até a polícia. Mas, afinal o quê o ex-croto iria dizer, se estava mesmo lascando e sacaneando e roubando o pobre servidor seu? Em síntese: houve um acordo.

  Assim terminou a história sem que a imprensa ou a polícia tomasse conhecimento do fato. O servidor? Acordo é acordo! Trabalhou para o ex-croto vereador, depois dessa tratado como uma “pessoa de casa”, o contracheque recheado por alguns meses, pois ele, meses depois, parte do acordo, mandou tirar o que era dele, isto é, do fantasma servidor, até o dia em que não aguentou mais o mar de lama e pediu exoneração. 

Em tempo: Qualquer semelhança não é mera coincidência.

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1 Comentário

  • Reply Marcelo Alencar 2 de abril de 2019 at 09:52

    Prezado Sebastião,

    Li e concordo com 1berto: isso acontece por aqui e no mundo! Mais um excelente texto! Parabéns, 1berto! Sobre o “vereador ex-croto”, sei de quem se trata! O prefeito deve saber também!

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