opinião

Operação Recidiva: por que nossa imprensa calou diante do pedido de prisão de radialista da Correio?

20 de novembro de 2019

Por Flávio Lúcio

Além de atuar como repórter da TV Correio e da 98 FM, o jornalista Bruno Pereira apresenta todas as manhãs, ao lado de Samuka Duarte,o programa Correio da Manhã.

Quem tem estômago para escutar o jovem rapaz falar sobre corrupção em seus comentários no rádio, imagina ser ele um rigoroso defensor da moralidade na vida pública. Como você já deve ter percebido, pertence a uma fauna de jornalistas que passou a povoar a imprensa paraibana nos últimos anos, alimentando cotidianamente, com uma retórica que beira a violência verbal tal a maneira incisiva como, em certas ocasiões, ele usa sua posição no rádio para condenar desafetos.

Na semana passada, por exemplo, enquanto retornava para casa depois de deixar meus dois filhos na escolar, tive a oportunidade de escutá-lo bradar contra Cida Ramos por conta da compra de filtros d’água para famílias de baixa renda que vivem em regiões afetadas pela seca, isso quando a hoje deputada estadual respondia pela Secretaria de Desenvolvimento Humano.

Pois bem, no início da tarde de hoje uma amiga me perguntou pelo Whatsapp se o Bruno Pereira que consta no Pedido de busca e apreensão que a Polícia Federal fez ao juiz Cláudio Girão Barreto, e que foi cumprido na manhã de hoje (20/11), é o mesmo Bruno Pereira que trabalha na Correio.

Li o pedido e comecei a pesquisar na internet. De imediato, estranhei que as matéria que noticiavam as ações da chamada Operação Recidiva, em nenhuma delas mencionava o nome de Bruno Pereira Vieira da Silva.

Primeiro, claro, fui ao Portal Correio, que pertence ao sistema que abriga os Varões de Plutarco de nossa ciosa imprensa. Diferente do que geralmente ocorre quando envolve adversários, a matéria publicada lá não menciona o nome de ninguém. É uma notícia sobre corruptos sem nomes.

Fui então ao blog de Suetoni Soutodo Jornal da Paraíba, que tem sido o jornalista preferido dos vazadores de processos sob sigilo. Vazamento, sobretudo quando se trata de Operação Calvário, é com Suetoni. Bom pra ele, mas péssimo para a Justiça. A matéria de Suetoni traz vários nomes, mas não menciona nenhum Bruno Pereira.

Como Souto Maior informa que o texto foi produzido com informações da Assessoria do MPF aqui na Paraíba, fui à página do Ministério Público Federal da Paraíba. Assim como aconteceu nos casos anteriores, a matéria publicada por lá também não menciona nenhum Bruno.

Das duas, uma: ou se trata de um homônimo ou órgãos importantes da nossa imprensa não acharam relevante mencionar o nome de uma conhecido radialista, repórter e apresentador de TV, fato que, certamente, despertaria mais interesse na população do que nomes de desconhecidos políticos, a maioria de pequenas cidades do interior.

Bruno Pereira é Bruno Pereira, radialista da Correio

Tive que fazer um trabalho de detetive para descobrir se o Bruno Pereira envolvido na Operação Recidiva é o mesmo Bruno Pereira que trabalha na Correio. Na decisão de busca e apreensão informa que o Bruno Pereira Vieira da Silva, contra quem a Polícia Federal pediu prisão preventiva, é assessor de imprensa e comunicação da Prefeitura de Ibiara.

Depois de uma breve pesquisa no Google, vejam o que eu encontrei.

Segundo o blog de Jordan Bezerra, Bruno “é filho natural da cidade de Ibiara, no Vale do Piancó” e “também é apresentador do programa radiofônico Correio Manhã, na Correio 98 FM, em João Pessoa“. À época da postagem, Bruno Pereira se preparava para assumir a apresentação do Programa Cidade Alerta Paraíba, programa da TV Correio.

No pedido da PF e a decisão do juiz Cláudio Girão Barreto, o chefe do esquema de desvio na prefeitura de Ibiara é o engenheiro Sergio Pessoa. Segundo a PF, Sergio Pessoa é, desde 2009, “figura recorrente em praticamente todas as operações de combate ao desvio de recursos públicos na Paraíba”.

Foi a prisão do engenheiro e a apreensão do seu aparelho telefônico que conduziu as investigações para o nome de Bruno Pereira, que recebeu R$ 17.500,00.

Hoje pela manhã, depois que o repórter policial Emerson Machado entrou ao vivo para informar aos ouvintes do Correio da Manhã que estava em curso na cidade de Santa Rita uma operação da Polícia Federal. Bruno Pereira tentou antecipar do que se tratava: “Pela experiência policial que nós temos, que se trata de tráfico de drogas ou pedofilia”, isso porque a operação acontecia em Santa Rita. Para ele, se envolvesse corrupção estaria acontecendo “na orla da praia”.

Tranquilo e mostrando ousadia, ele ainda questionou o GAECO: “Eu quero saber porque o GAECO não passa na cidade de Bayeux,” insinuando em seguida corrupção na Câmara de Vereadores.

No finalzinho do programa, Bruno Pereira leu a nota oficial sobre a Operação Recidiva. Enquanto lia, chegou a ressaltar a presença da Prefeitura de Ibiara (“minha terra”).

Ele não sabia ainda, mas era um dos alvos da operação, e escapou de ser preso ao vivo.

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6 Comentários

  • Reply LAVOISIER 20 de novembro de 2019 at 20:28

    É o dito cujo ou não?

  • Reply Zé Bedeu 20 de novembro de 2019 at 20:31

    A garapa azedou

  • Reply Hélio 21 de novembro de 2019 at 07:58

    Engraçado como em operações que envolvem jornalistas envolvidos em corrupção os ditos profissionais integram os quadros de determinado sistema de comunicação, vide exemplos de Fabiano Gomes, Samuka Duarte, Nilvan Ferreira e agora o Bruno Pereira.

  • Reply Fabrício 21 de novembro de 2019 at 09:05

    Ninguém está escapando.

  • Reply Angela 21 de novembro de 2019 at 15:04

    Esse “menino” com cara de bebê Johnson que parece que mal saiu das fraldas?

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