Quando eu era menino lá no sertão esse negócio de estupro já existia, mas com outro nome.
Dizia-se que fulano comeu fulana, na marra.
Havia quem duvidasse, porém, ser possível tal ocorrência.
Finado Janjão Amaral teimava com Zé Marreta, na esquina de Odívia, com a tese dessa impossibilidade.
-Duvido o cabra comer sem ela querer. Basta cruzar as pernas -, garantia Janjão, antigo guerrilheiro das hostes de Zé Pereira na guerra de 30.
Tal tese era, porém, desmoralizada por Bicudo Massaroca. Segundo ele, cruzada de perna alguma, por mais voluntariosa que fosse, resistiria a um cutucão no vazio.
-Duvido ela não descruzar -, garantia, enquanto imitava o cutucão, enfiando os dois polegares nas laterais da pinotante Arlinda Doida.
Os estupros, ou comida na marra como queiram, eram raros, mas a sedução não. Esta imperava a partir de Cachoeira de Minas, onde o famoso Bastinho enfileirava as mocinhas e lhes tirava a castidade com a desenvoltura de um verdadeiro craque.
Na cidade, um amigo arrancador de dentes indenizava as seduzidas com máquinas de costura. No período de dois meses ele acabou o estoque das Singers guardadas na loja de Baldi.
Puxando pela memória, chega-me um caso de estupro registrado em Juazeirinho.
Um tarado pegou uma moça debaixo da ponte do trem e a estuprou.
Mas deu azar.
Um curioso viu tudo de cima da ponte. E mais tarde, convocado para depor, confirmou tudo:
-Vi sim, doutora delegada, o cabra derribou a moça, abriu as pernas dela e enfiou lá dentro o negócio dele.
A delegada, curiosa, procurou pelos detalhes:
-Quer dizer que o senhor viu quando o elemento introduziu o órgão na mulher?”
E a testemunha:
-Qui era esse negócio de órgão, eu num sei dizer direito. Pensando bem, achei mais parecido com uma kilarineta”.
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