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OS DANÇARINOS

17 de dezembro de 2018

 
Aprendi a dançar no cabaré de Estrela. Precisava de um curso intensivo para participar de uma festa na cidade de Tavares, onde arranjara uma namorada dançadeira, e me vali das raparigas da Rua da Lapa, que me ensinaram direitinho os passos de um bom forró em menos de 48 horas de treino.

Claro que houve um inconveniente: como se tratava de cabaré, o jeito de dançar foi todo na base da gafieira, aquele onde o sujeito dança com a perna direita enfiada no entrepernas da mulher.

Coisa de somenos importância, digo eu. O importante foi o resultado. Compareci ao baile de Tavares, dancei com a namorada até o dia amanhecer, e parece que ela gostou, pois quando eu me confessava cansado, pedindo para sentar, ela me olhava com jeito pidão e implorava: – Só mais um bocadinho!”

Daí em diante, me tornei um pé de valsa na exata expressão da palavra. Não perdia forró, assustado, baile de formatura, de debutante, de casamento ou de batizado. Cordeiro de Manoel Lopes tocava a sanfona ou Manoel Marrocos soprava o seu saxofone e lá estava eu na fila para entrar na farra. Claro que não chegava nem aos pés de um Antonio Gordão ou de um Carlos Pata Choca, os dois dançarinos clássicos da cidade. Também não amarrava as chuteiras de um Antonio Lira, mestre dos mestres na arte da gafieira. Mas pelo menos não pisava nos pés da dama, o que já era um avanço e uma garantia de que elas não iriam recusar um chamamento meu.

Quando eu e minha turma começávamos a dançar, cada um avisava para o mais próximo: – Bota do lado direito ! –, e nós botávamos. As meninas eram puritanas, mas na hora do aconchego não protestavam. Tinha delas que cochilava. Outras gemiam baixinho no pé do ouvido do cavalheiro.

Havia alguns inconvenientes. Bartolomeu Maia, só por maldade, tinha o hábito de desligar a música na metade somente para ver a turma do “lado direito” sair correndo em direção ao seu vasto quintal.

O mais safado de todos era Dil de Severino Almeida. Metido a galo cego, a conquistador, a derretedor de corações femininos, dançava com todas e tinha até mulher na fila esperando a vez de agarrar o seu cangote. Depois dele, destacavam-se  Totonho de Seu Mano, Moab de Pedro Crente, João de Carlota, Joca Fernandes (o mais sonso), Zé Nominando, Edson Malibu, Edmilson Lucena, Zé de Lourenço e Sales da Timbaúba.

Numa noite de dança, me lembro bem, formosa loira dançava agarradinha ao pescoço de conhecido sanfoneiro. Os dois estavam tão colados que entre eles não passava nem vento. E cochilavam ao som do bolero, perna indo e perna vindo, até que, a certa altura, a loira gemeu alto e desmaiou. Correram a chamar Doutor Zezito Sérgio, que bebia uísque na parte da frente do bar, para examinar a moça que jazia, inerte, no chão. Dr. Zezito pegou no pulso dela, colocou os ouvidos em suas costas, apertou a veia do pescoço e, depois de sentir a respiração quente e ofegante que saia dos seus lábios, tranqüilizou a todos, diagnosticando:

-Nada de grave, minha gente. Foi apenas um orgasmo no seco.

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