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OS DOIS BARÕES DE RAMALHO:        UM BRASILEIRO E        OUTRO PORTUGUES

30 de dezembro de 2018

       Ramalho Leite

Vim descobrir recentemente por que a família da minha esposa fazia restrições ao seu casamento comigo. Para casar, tive que roubar a moça. O coronel Camporra, irmão do Barão de Araruna era seu trisavô. Com essa ascendência nobre, como permitir a união com o filho de um plebeu, cujo mais ilustre membro familiar era tenente da Guarda Nacional? Mas a história abre caminhos e a genealogia nos leva a conhecer o passado. Em busca desses ancestrais encontrei Joaquim Inácio Ramalho, Barão de Ramalho, um ilustre homem do direito, contemplado com todas as honrarias do Segundo Império. Um dia ainda vou reivindicar esse título de nobreza. Só não sei perante qual juízo…
Filho de um espanhol, o futuro barão nasceu a 6 de janeiro de 1809, em São Paulo. Os irmãos Antônio Nunes Ramalho (parente da Elba) e Anna Felisberta Ramalho foram seus pais de criação, recebendo deles o sobrenome Ramalho. Foi dos primeiros alunos da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco onde se bacharelou em 1834 e foi doutor em 1835. No ano seguinte já era professor substituto da mesma escola onde se graduara. Dez anos depois foi eleito vereador e presidente da Câmara de São Paulo. Sua destacada atuação lhe valeu a nomeação, através de decreto imperial, para a presidência da Província de Goiás, até 1848 quan do se elege deputado geral por Goiás. No retorno, foi deputado provincial paulista, por duas legislaturas. É ainda comendador da Ordem da Rosa e da Ordem de Cristo.
Conselheiro do Governo Imperial lidera um grupo de advogados para fundar o Instituto dos Advogados de São Paulo, ativo ainda hoje. Depois de aposentado como catedrático da Faculdade de Direito foi distinguido pelo Império com o baronato. Denominado Barão de Água Branca, em homenagem à cidade alagoana do mesmo nome, recusou o título. Somente aceitaria o título de Barão, caso houvesse referência à família de sua esposa Paula da Costa Ramalho, filha de um dos Ramalho que o criara. Assim, em 28 de maio de 1887, torna-se o Barão de Ramalho. Nomeado diretor da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, ocupa esse cargo até sua morte em 15 de ago sto de 1902, aos 93 anos.
Em artigo sobre os Notáveis do Direito, Alessandro Hirata, livre docente da USP, considera o Barão de Ramalho “um exemplo de carreira dedicada à academia. Passou a maior parte de sua longa vida nos bancos da São Francisco. Sua atuação é modelo não apenas para a tradicional faculdade paulistana, mas para todo o mundo acadêmico jurídico”.
Acabei de falar sobre o Barão de Ramalho brasileiro. Dona Maria II, de Portugal, contudo, destacou um político do Açores com o título de Barão do Ramalho. Chamava-se Antônio Tomé da Fonseca Carvão Paim Câmara, o 1º Barão. Seu neto, Antônio da Fonseca Carvão Paim da Câmara, foi o 2º. Barão e além de político e jornalista foi governador civil, por diversas vezes, do distrito de Angra do Heroísmo e de Ponta Delgada até 1878. Cavalheiro da Casa Real, comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, eram alguns dos seus títulos. Era formado em Ciências Naturais pela Unive rsidade de Bruxelas.
Com essa ascendência nobre, tanto brasileira quando d’além mar, juntei a Casa dos Aragão com a Casa dos Ramalho e ainda hei de reivindicar o meu título de nobreza. O coronel Camporra que me aguarde!  (Do meu livro A HISTÓRIA COMO EU CONTO)   

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