opinião

Os garçons

16 de fevereiro de 2020

Marcos Pires

Duvido existir alguém que entenda mais de garçons do que eu. Como não tenho casa, faço as refeições em restaurantes, lanchonetes, bares, muquifos e outros locais menos votados. E isso desde muitos anos. Posso afirmar que garçom é igual a Papai Noel; tudo que você pede ele traz, com a vantagem de não termos de nos comportar bem, né?

Uma das lutas que assumi em favor dos garçons infelizmente tem as mulheres como contendoras. Mesas onde só mulheres sentam são o terror desses meus amigos “da bandeja”. É que mulher, em sua maioria, não dá gorjeta e tem a mania de implicar com a conta, questionando se a única bebida servida, uma água mineral, era de 300 ml ou 500 ml.

Curiosa é a origem da palavra garçom. Das muitas versões, a mais crível diz que quando a segunda guerra mundial estava findando, era escassa a mão de obra na França, o que levou muitos garotos a trabalharem, inclusive em bares e restaurantes. A clientela chamava esses meninos na língua francesa, garçom. Os soldados estrangeiros que ouviam entendiam ser a profissão, e quando voltaram a seus países difundiram o erro. Pior ainda é chamar a profissional de garçonete. Esse “ette” é o final diminutivo feminino na língua francesa. Portanto, garçonete significaria mais ou menos meninozinha. Foi assim que me contaram.

Mas vamos a fatos reais. Das centenas de histórias que já ouvi desses meus amigos, acho arretada a confissão que me fez o maitre F., que um dia estava servindo num casamento de gente riquíssima e a certa altura foi procurado pelo marido de uma grande dama, que ficara chateadíssima com o fato de uma outra grande dama estar usando um vestido igual ao seu, comprado em Paris como exclusivo. Mediante uma boa paga, F. deveria “acidentalmente” derrubar sobre o vestido da agora inimiga uma garrafa de vinho tinto. Eu perguntei abismado se ele fizera aquilo. Deu uma das suas clássicas gargalhadas: “- Jamais, nobre causídico. Nunca me passaria para tanto…então baixou a voz e confessou: – eu terceirizei”.

Algumas verdades eu aprendi nessa minha vida de restaurantes; uma delas é que a maioria das mulheres é feminista até chegar a conta, no que fazem muito bem. Homem que não puxa a cadeira para a companheira sentar ou não paga a conta é um macho crica. Enfim, tenho uma lição. Uma pessoa que trate mal os garçons jamais será uma boa pessoa.

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