Marcos Pires
Duvido existir alguém que entenda mais de garçons do que eu. Como não tenho casa, faço as refeições em restaurantes, lanchonetes, bares, muquifos e outros locais menos votados. E isso desde muitos anos. Posso afirmar que garçom é igual a Papai Noel; tudo que você pede ele traz, com a vantagem de não termos de nos comportar bem, né?
Uma das lutas que assumi em favor dos garçons infelizmente tem as mulheres como contendoras. Mesas onde só mulheres sentam são o terror desses meus amigos “da bandeja”. É que mulher, em sua maioria, não dá gorjeta e tem a mania de implicar com a conta, questionando se a única bebida servida, uma água mineral, era de 300 ml ou 500 ml.
Curiosa é a origem da palavra garçom. Das muitas versões, a mais crível diz que quando a segunda guerra mundial estava findando, era escassa a mão de obra na França, o que levou muitos garotos a trabalharem, inclusive em bares e restaurantes. A clientela chamava esses meninos na língua francesa, garçom. Os soldados estrangeiros que ouviam entendiam ser a profissão, e quando voltaram a seus países difundiram o erro. Pior ainda é chamar a profissional de garçonete. Esse “ette” é o final diminutivo feminino na língua francesa. Portanto, garçonete significaria mais ou menos meninozinha. Foi assim que me contaram.
Mas vamos a fatos reais. Das centenas de histórias que já ouvi desses meus amigos, acho arretada a confissão que me fez o maitre F., que um dia estava servindo num casamento de gente riquíssima e a certa altura foi procurado pelo marido de uma grande dama, que ficara chateadíssima com o fato de uma outra grande dama estar usando um vestido igual ao seu, comprado em Paris como exclusivo. Mediante uma boa paga, F. deveria “acidentalmente” derrubar sobre o vestido da agora inimiga uma garrafa de vinho tinto. Eu perguntei abismado se ele fizera aquilo. Deu uma das suas clássicas gargalhadas: “- Jamais, nobre causídico. Nunca me passaria para tanto…então baixou a voz e confessou: – eu terceirizei”.
Algumas verdades eu aprendi nessa minha vida de restaurantes; uma delas é que a maioria das mulheres é feminista até chegar a conta, no que fazem muito bem. Homem que não puxa a cadeira para a companheira sentar ou não paga a conta é um macho crica. Enfim, tenho uma lição. Uma pessoa que trate mal os garçons jamais será uma boa pessoa.
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