As campanhas políticas já foram mais engraçadas. Engraçadas e animadas. A televisão não mostrava os debates,mas o povo ia aos comícios vibrar com os discursos dos candidatos.
Mas naqueles ontens havia orador de tuia.
Lá em Princesa, por exemplo, Antonio Nominando (o velho) e Aloysio Pereira arrebanhavam multidões. Nominando, poético, fazia o povo chorar. Aloysio, inflamado, fazia o solo tremer.Cada qual no seu cada qual, orando e fazendo bonito.
Também havia um senhor de cabelos brancos chamado Cicero Marrocos, avô de meus amigos Marroquinhos e Antonio Júnior, que empolgava as platéias. Sua oratória contundente rendeu-lhe o apelido de Espinha de Garganta. Não entendi o motivo desse apelido, porque, até onde me é dado saber, garganta ferida não faz discurso.
Pelas bandas de cá, Zé Américo, Alcides, Asfora, Ronaldo , Vital do Rego, Argemiro e João Agripino garantiam as multidões nos comícios.
Zé Américo era contundente, botava aleijões nos adversários que nunca mais saiam. De todos os seus ataques, o único que não lhe rendeu muito foi o que fez a Ruy Carneiro. Tentou humilhar Ruy num comício de rua, lembrando que Ruy não era nada até ser ajudado por ele e terminou perdendo a eleição para o Senado.
Alcides fazia uma poesia em cada frase pronunciada, mas não teve sorte na política. Tanto não teve que um dia desabafou: “A Paraíba gosta de me ouvir, mas não gosta de votar em mim.”
De Asfora conta-se o seguinte acontecido:Uma multidão estava concentrada na Lagoa do Parque Solon de Lucena participando do comício promovido por Jânio Quadros, candidato à Presidência da República.
Na hora em que Jânio começou a falar,alguém soltou um busca-pé. Foi um pânico geral,milhares de pessoas correndo. Raymundo Asfora,que também participava do comício, tomou o microfone do orador e gritou:
-Começa a provocação. É fogo baixo do Governo. Não sei como brinca com fogo quem tem lã.
Referia-se a Ruy Carneiro.
Ronaldo era bom de discurso e melhor ainda de tirada.Chegando de viagem ao Aeroporto de Campina Grande, foi recebido por alguns amigos, entre os quais um cidadão acompanhado de um garotinho.Ao abraça-los, Ronaldo perguntou:
-E esse menino? É seu filho?
Ele respondeu:
-É nosso.
Ronaldo se mostrou surpreso e disse:
-Estou sabendo agora.
Agripino não discursava, conversava com o povo. Num comício na cidade de Patos, João caiu na besteira de facultar a palavra. O vereador Rui Gouveia, emedebista roxo, gritou lá do meio do povo:
-Governador, comentam por aqui que o senhor tem duas esposas. É verdade?
João, sem alterar a voz, contra argumentou:
-Seria feio se dissessem que a mulher do governador tem dois maridos.”
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Pegando esta sua “deixa”, com a devida vênia, Osmar de Aquino, político de renome e nacionalmente conhecido, prefeito de Guarabira, o mais novo Deputado Federal em sua época, grande jurista – o advogado dos pobres, assim o consideravam, querido e admirado por todos (ricos e pobres), possuidor de invejável verve, boêmio de primeira grandeza, bebia muito, chegando, às vezes, a varar as madrugadas em plena farra com seus amigos.
Conta-se, entretanto, que, certa feita, constituído advogado de defesa de um determinado réu que tinha sido condenado por assassinato, em Canguaretama (RN), se não me engano, numa manhã de segunda-feira, em pleno juri, de ressaca, começou a se sentir mau e, de quando em vez, deixava, em repetidos curtos espaços de tempo, o recinto do Tribunal para ir ao banheiro vomitar, inclusive durante o discurso (e era realmente um discurso) de sua defesa, pois quando começava a falar todos paravam e se voltavam para escutá-lo.
Num certo momento, o Promotor, enraivecido com as constantes paradas e intervas, lquerendo descaracterizá-lo, envergonhá-lo, desmoralizá-lo diante o público e, principalmente, junto ao Corpo de Jurados, pediu um aparte, o que lhe fora concedido, e, dirigindo-ao Juiz, disse: “Meritíssimo Sr. Juiz, rogo-lhe, data vênia, suspender momentaneame os trabalhos deste Tribunal e chamar um médico para aplicar uma injeção de glicose na veia deste ébrio causídico, o que ora somente nos envergonha, desmoraliza a nossa profissão e a própria Justiça”.
Retomando a palavra, disse: “Vossa excelência exagerou em sua alocução e no seu mister, tornando-me, com seu inadequado e vergonhoso procedimento, réu de suas ofensas, cujo pré-julgamento não se lhe torna cabível, nem de direito, mas somente a este digno, seleto e honrado Corpo de Jurados, pois eu estou vomitando, não por consequência de embriaguez, mas com nojo dessa justiça do Rio Grande do Norte, em indiciar, prender e condenar um inocente.
Resultado: 7 a 0.
Saiu do Tribunal sob aplausos e nos braços do povo.
Marreiro