opinião

Os tais honorários

2 de fevereiro de 2020

Marcos Pires

Eita dinheirinho difícil. Quem é do ramo sabe ao que estou me referindo. Eu mesmo já recebi honorários pela minha atuação como Advogado das mais incríveis maneiras possíveis. Cheguei a receber um peru, o que me causou enorme problema porque meus filhos (à época crianças) costumavam assobiar para a ave na ida e na volta da escola apenas para ouvir aquele glu, glu, glu sem graça. Um dia não encontraram o peru, que havia ido ocupar seu lugar em nosso forno. Foi um chororô que jamais esquecerei. Pior foi ver aquela delicia assada na mesa do almoço. Carolina desesperada chamava nossa cozinheira Maria de assassina e Pedro caiu num banzo terrível. Claro que o peru voltou inteiro para a cozinha e almoçamos arroz com ovos. Mas como qualquer situação ruim pode piorar, a super Maria fatiou o peru e o serviu no jantar, para desespero das crianças que a tacharam de nazista e esquartejadora.

Por isso sempre fui fã do Dr. J. B.. Certa feita ele atuou numa causa defendendo os interesses de uma Ordem religiosa em uma questão que discutia patrimônio de milhões. Enfim ganhou a causa e foi procurar seus clientes para dar a boa notícia e principalmente tratar dos honorários.

A sede regional dessa Ordem ficava em Recife, onde ele foi recebido pelos principais dirigentes com um lauto almoço, regado a bons vinhos. Me contou tempos depois que durante o banquete conversaram sobre todo tipo de assunto, mas nada de tocarem nos honorários. Depois da sobremesa, quando haviam servido o café e um excelente licor Frangelico, por uns momentos caíram em contemplação e fez-se aquele silencio.  Na sua genialidade, Doutor J. B. bateu na mesa: “- Sim, e por falar em honorários…”. Foi um Deus nos acuda. Os padres começaram a dizer que a Ordem era pobre, que não poderiam pagar, mas ele mostrou a tabela da OAB pela qual teria direito a até 20% do valor conquistado. “- Mas como sou fiel, devoto, vou deixar em 10%”. Chora dali, estrila daqui o maioral da Ordem propôs que 10% estava certo, mas eles não tinham dinheiro. No entanto pagariam em orações diárias dedicadas ao Advogado e a sua família. Mais uma vez, numa atuação esplendida, Dr. J. B. fechou a questão. “- Façamos a verdadeira justiça divina, padre. Vamos dividir. Eu receberei metade em preces e orações e a outra metade em dinheiro. Pode ser assim?”.

Podia e deu certo.

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