Li com atenção, como sempre faço, o relato de Nonato Guedes sobre os tiros disparados em Burity pelo poeta e então governador Ronaldo Cunha Lima, para registrar os 30 anos do episódio.
Vivi um drama menor do que o de Nonato na época, pois ele, superintendente do Jornal A União, tinha que pisar em ovos para noticiar o acontecido, já que trabalhava para o governo e o governo era exercido pelo atirador.
Do texto de Nonato faço um reparo: Ronaldo não abriu mão das imunidades parlamentares para responder ao processo. Fez exatamente o contrário, quando o seu julgamento caminhava para o veredito, ele renunciou ao mandato de deputado federal, forçando, assim, a baixa dos autos para a primeira instância já que ele se tornara um réu comum. Foi a partir da baixa que o processo se perdeu nos tortuosos e misteriosos caminhos da conveniência de cada um.
A cobertura jornalística da época foi uma vergonha. O Correio da Paraíba transformou Ronaldo em herói e Burity em agressor. Disse que Ronaldo atirara para lavar a honra ultrajada. Salvou-se o noticiário de O Norte, que encostou Ronaldo no canto de parede, mas, infelizmente, cedeu aos acenos irrecusáveis e as ofertas impublicáveis.
Comecei a escrever um livro sobre o episódio do Gulliver. Tenho dez capítulos prontos. Parei por aí. Arquivei o projeto e, a essa altura do campeonato, não sei se tenho mais energia para ir adiante.
Fiz o registro em respeito aos leitores de Nonato e ao próprio Nonato, que decerto esqueceu o detalhe da renúncia e não tomou conhecimento da vergonhosa sessão do Supremo que acatou a farsa. Sem esquecer o cinismo daquele ministro, que na frente de Dona Glauce Burity, afirmou que Ronaldo atirou no seu oponente porque este, antes, puxara um revólver para ele.
5 Comentários
É por isso que eu te admiro como jornalista , Sebastião. Pela tua coragem, honrando nossas raízes e tradições sertanejas da Serra do Teixeira. Deves concluir teu livro. O caso em pauta, faz parte da história da Paraíba e da biografia do Governador Burity.
Termine o livro e publique Tião, vai tornar-se um documento precioso para a história da Paraíba.
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Trinta anos é o que vale os trinta mil funcionários demitidos na época que ele assumiu o governo.
FAZ LOGO A PORRA DESSE LIVRO, RAPAZ!