Por muitos anos Seu João peregrinou pelas portarias dos jornais a procura dos fiados não pagos. Dizem que uma das causas do fechamento do bar foi a inadimplência dos jornalistas.
Bebia-se no Grande Ponto e a despesa era depositada num vale, nunca resgatado.
E Seu João sofrendo.
Até que um dia a medida passou do ponto e ele disse não pela primeira vez. Aliás, dizer não disse, mandou a mocinha avisar ao consumidor inadimplente que não poderia atendê-lo em razão do fiado não honrado.
Pedro Moreira convidou Severino Ramos e Zeca Porto para experimentarem a cerveja gelada de Seu João. Chegaram, sentaram e, antes que algum pedido fosse feito, a mocinha aproximou-se de Pedro Moreira e avisou: “Não podemos servir ao senhor”.
– Por que? -perguntou Pedro, com jeito de quem comeu e não gostou.
E a mocinha:
– O senhor não paga seus vales faz mais de seis meses.
Instalou-se o mal-estar na mesa. Biu Ramos, já triscado por causa dos cinco uísques que bebera no Bar de Moura, virou-se para Pedro e censurou:
– Ó imbecil, pague a conta.
Pedro volta a chamar a mocinha e decide:
– Traga os meus fiados. Hoje eu resolvo tudo.
Animada, a garçonete correu a abastecer a mesa e, enquanto os três expulsavam o calor com a cerveja estupidamente gelada, depositou na frente do devedor uma massaroca de vales.
– Some tudo e totalize -, ordenou Pedro.
Foi preciso pedir ajuda ao dono do Bar, que num passe de mágica desmanchara a carranca e sorria de orelha a orelha.
Feito a soma e colocado o total, Pedro ainda mandou que fosse incluída a despesa do dia e mais uma gratificação para a mocinha.
– Pronto, agora ninguém reclama mais – falou Moreira. De várias dívidas, só restou uma.” E devolveu a folha preenchida ao espantado Seu João, que voltou para o balcão sem entender nada.
Nesse ínterim, Abmael Morais chegava depois de fechar a primeira página do Correio da Paraíba. E ao tomar conhecimento do acontecido, não teve dúvidas:
– Pedro, você teve uma atitude digna”.
Sem Comentários