Miguezim de Princesa
I
Eu quero me aposentar
Com a PEC da Bengala,
Com a chinela arrastando
No taco velho da sala;
Sem nem enxergar a pista,
Conduzindo o meu Opala.
II
Pelos cantos de Brasília,
Não vai escapar ladrão
Que eu não persiga correndo
Com a bengala na mão.
Mãos ágeis e pés ligeiros,
Bato com ele no chão.
III
Quem se aposenta cedo,
Fica assim sem fazer nada,
Dana-se a beber cachaça,
Começa com presepada,
Enchendo o saco dos outros
E até levando facada.
IV
Para que se aposentar
E depois ficar parado,
Pagando conta de filhos,
Indo ao supermercado,
Pegando fila de velho,
Servindo pra dar recado?
V
Não poder ir ao boteco,
Porque a mulher reclama;
De manhã, quando se acorda,
Já acha uma conta na cama
E um recado dizendo
Que é pra cortar a grama.
VI
Com os netos na escola
E os filhos no trabalho,
O sujeito aposentado
Vai vender chifre a retalho
E se divertir na praça
Com dominó e baralho.
VII
Trabalhar é coisa boa,
É grande a animação,
Tem happy hour na semana,
Tem confraternização,
E o cabra é admirado
Na sua jurisdição.
VIII
É o brinquedo dos grandes
Esse tal de trabalhar:
Tem gente que passa a vida
Pensando em se aposentar,
Achando que vai viver
Apenas de descansar.
IX
Já dizia o velho Ulisses,
Com toda sobriedade,
O descanso merecido
Não é por causa de idade,
Porque para fazer isso
Tenho toda a eternidade.
X
Então, vamos trabalhar
Até o dente cair,
Um troço crescer demais
E outro diminuir,
Correr descendo a ladeira
E nada mais de subir.
XI
Essa tal de Previdência
É uma coisa do Cão:
Quanto mais a gente paga,
Mais enriquece o ladrão,
O rico não paga nada,
Que é grande a sonegação.
XII
Sonega e ganha refis,
Depois deixa de pagar,
E o besta só pensando
Em um dia se aposentar,
Quando for ver já está morto,
Não viu a vida passar.
XIII
Eu mesmo só me aposento
Quando a lei me obrigar,
Me junto com o Véi da 12
E ainda vou chamar
Doutor Fernando Fernandes
Para a gente patrulhar:
Eu segurando uma bengala
E uma pedra de amolar;
Ele com uma faca-peixeira,
Comprada no Ceará.
De um jeito muito ditoso,
Com o Estatuto do Idoso,
Vamos botar pra quebrar!
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