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PARA QUE SE APOSENTAR?

21 de fevereiro de 2019

Miguezim de Princesa

I

Eu quero me aposentar

Com a PEC da Bengala,

Com a chinela arrastando

No taco velho da sala;

Sem nem enxergar a pista,

Conduzindo o meu Opala.

II

Pelos cantos de Brasília,

Não vai escapar ladrão

Que eu não persiga correndo

Com a bengala na mão.

Mãos ágeis e pés ligeiros,

Bato com ele no chão.

III

Quem se aposenta cedo,

Fica assim sem fazer nada,

Dana-se a beber cachaça,

Começa com presepada,

Enchendo o saco dos outros

E até levando facada.

IV

Para que se aposentar

E depois ficar parado,

Pagando conta de filhos,

Indo ao supermercado,

Pegando fila de velho,

Servindo pra dar recado?

V

Não poder ir ao boteco,

Porque a mulher reclama;

De manhã, quando se acorda,

Já acha uma conta na cama

E um recado dizendo

Que é pra cortar a grama.

VI

Com os netos na escola

E os filhos no trabalho,

O sujeito aposentado

Vai vender chifre a retalho

E se divertir na praça

Com dominó e baralho.

VII

Trabalhar é coisa boa,

É grande a animação,

Tem happy hour na semana,

Tem confraternização,

E o cabra é admirado

Na sua jurisdição.

VIII

É o brinquedo dos grandes

Esse tal de trabalhar:

Tem gente que passa a vida

Pensando em se aposentar,

Achando que vai viver

Apenas de descansar.

IX

Já dizia o velho Ulisses,

Com toda sobriedade,

O descanso merecido

Não é por causa de idade,

Porque para fazer isso

Tenho toda a eternidade.

X

Então, vamos trabalhar

Até o dente cair,

Um troço crescer demais

E outro diminuir,

Correr descendo a ladeira

E nada mais de subir.

XI

Essa tal de Previdência

É uma coisa do Cão:

Quanto mais a gente paga,

Mais enriquece o ladrão,

O rico não paga nada,

Que é grande a sonegação.

XII

Sonega e ganha refis,

Depois deixa de pagar,

E o besta só pensando

Em um dia se aposentar,

Quando for ver já está morto,

Não viu a vida passar.

XIII

Eu mesmo só me aposento

Quando a lei me obrigar,

Me junto com o Véi da 12

E ainda vou chamar

Doutor Fernando Fernandes

Para a gente patrulhar:

Eu segurando uma bengala

E uma pedra de amolar;

Ele com uma faca-peixeira,

Comprada no Ceará.

De um jeito muito ditoso,

Com o Estatuto do Idoso,

Vamos botar pra quebrar!

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