opinião

PARAIBA MASCULINA

3 de julho de 2022

RAMALHO LEITE
Dos três títulos de cidadão paraibano que concedi durante toda minha vida parlamentar, um deles foi para Luiz Gonzaga do Nascimento, o Gonzagão, Rei do Baião. Quando, muito feliz, veio receber a honraria, seu Luiz teve oportunidade de se penitenciar perante a mulher paraibana, explicando o sentido que ele e Humberto Teixeira quiseram conferir à expressão “Paraiba, mulher macho, sim senhor” contida no baião Paraíba, um sucesso nacional. Na tribuna da Assembleia explicou que pretenderam homenagear a Paraíba, substantivo feminino, mas muito macho. A letra vai ao passado, lembra os primórdios da revolução de 30, cujo pontapé inicial aqui ocorreu com a morte de João Pessoa e, se refere à luta de Princesa, comandada pelo coronel José Pereira Lima. “Pau pereira, que em Princesa já roncou”.
A música foi lançada em 1946 na voz de Emilinha Borba. Em 1950, em caravana da qual fazia parte ainda Luiz Gonzaga e Sivuca, a música serviria de inspiração à campanha de Argemiro de Figueiredo e Pereira Lira, para governador e senador. Homem forte do governo do presidente Dutra, Lira trouxera esses famosos para animar o comício da Praça da Bandeira, em Campina Grande. Esse comício foi a nota destoante da memorável campanha de 1950, vencida por José Américo de Almeida. Era 9 de julho. Uma passeata dos americistas tentou, após as falas dos argemiristas, fazer um comício no mesmo local. Esse confronto resultou em tiros e mortes.  Apoiados pelo governo de José Targino que substituíra Osvaldo Trigueiro de Albuquerque Melo, no Palácio da Redenção, a chapa da UDN, formada por   Argemiro-Renato Ribeiro, foi sepultada junto com os mortos da praça da Bandeira.
Para José Américo, aquela fora a campanha mais violenta que já vencera. Os dois grandes chefes partidários, Américo e Argemiro, oriundos da União Democrática Nacional (UDN) separaram-se e se enfrentaram nas urnas. Ambos mobilizaram suas forças e convocaram todos os paraibanos para a luta. Quem, por exemplo, baixou na terrinha e só voltou após o pleito, foi o romancista José Lins do Rego. Em um dos seus discursos uma frase ganhou manchete nacional: “quem não votar em José Américo, é porque não tem vergonha na cara”. Américo venceu e, pouco depois despediu-se do governo para ser ministro de Getúlio Vargas.
Fechado esse parêntesis, volto a Gonzagão, não somente pelo clima nublado das festas juninas deste ano. Assisti a um documentário da Assembleia do Ceará, postado no youTube, aliás muito bem feito, mas contendo um erro histórico. O documentário que trata da vida e obra de Gonzagão enfocou o baião Paraíba e a sua origem. Com uma foto de José Américo bem jovem, afirmou-se que a composição de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira tinha sido uma solicitação de Jose Américo para a sua campanha de 1950. Ora, em 1950, Gonzaga veio à Paraíba, especificamente a Campina Grande, para um comício dos adversários de Américo. Veio cantar para Argemiro e Pereira Lira. Feita a correção.

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