opinião

PARAIBA MASCULINA

30 de junho de 2024

 

RAMALHO LEITE

Dos três títulos de cidadão paraibano que concedi durante toda minha vida parlamentar, um deles foi para Luiz Gonzaga do Nascimento, o Gonzagão, Rei do Baião. Quando, muito feliz, veio receber a honraria, seu Luiz teve oportunidade de se penitenciar perante a mulher paraibana, explicando o sentido que ele e Humberto Teixeira quiseram conferir à expressão “Paraiba, mulher macho, sim senhor” contida no baião Paraíba, um sucesso nacional. Na tribuna da Assembleia explicou que pretenderam homenagear a Paraíba, substantivo feminino, mas muito macho. A letra vai ao passado, lembra os primórdios da revolução de 30, cujo pontapé inicial aqui ocorreu com a morte de João Pessoa e, se refere à luta de Princesa, comandada pelo coronel José Pereira Lima. “Pau pereira, que em Princesa já roncou”.

 

A música foi lançada em 1946 na voz de Emilinha Borba. Em 1950, em caravana da qual fazia parte ainda Luiz Gonzaga e Sivuca, a música serviria de inspiração à campanha de Argemiro de Figueiredo e Pereira Lira, para governador e senador. Homem forte do governo do presidente Dutra, Lira trouxera esses famosos para animar o comício da Praça da Bandeira, em Campina Grande. Esse comício foi a nota destoante da memorável campanha de 1950, vencida por José Américo de Almeida. Era 9 de julho. Uma passeata dos americistas tentou, após as falas dos argemiristas, fazer um comício no mesmo local. Esse confronto resultou em tiros e mortes.  Apoiados pelo governo de José Targino que substituíra Osvaldo Trigueiro de Albuquerque Melo, no Palácio da Redenção, a chapa da UDN, formada por   Argemiro-Renato Ribeiro, foi sepultada junto com os mortos da praça da Bandeira.

 

Para José Américo, aquela fora a campanha mais violenta que já vencera. Os dois grandes chefes partidários, Américo e Argemiro, oriundos da União Democrática Nacional (UDN) separaram-se e se enfrentaram nas urnas. Ambos mobilizaram suas forças e convocaram todos os paraibanos para a luta. Quem, por exemplo, baixou na terrinha e só voltou após o pleito, foi o romancista José Lins do Rego. Em um dos seus discursos uma frase ganhou manchete nacional: “quem não votar em José Américo, é porque não tem vergonha na cara”. Américo venceu e, pouco depois despediu-se do governo para ser ministro de Getúlio Vargas.

 

Fechado esse parêntesis, volto a Gonzagão, não somente pelo clima nublado das festas juninas deste ano. Assisti a um documentário da Assembleia do Ceará, postado no youTube, aliás muito bem-feito, mas contendo um erro histórico. O documentário que trata da vida e obra de Gonzagão enfocou o baião Paraíba e a sua origem. Com uma foto de José Américo bem jovem, afirmou-se que a composição de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira tinha sido uma solicitação de Jose Américo para a sua campanha de 1950. Ora, em 1950, Gonzaga veio à Paraíba, especificamente a Campina Grande, para um comício dos adversários de Américo. Veio cantar para Argemiro e Pereira Lira. Feita a correção.

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1 Comentário

  • Reply CHICO OLIVEIRA 30 de junho de 2024 at 16:23

    ESSE É MESTRE SEVERINO RAMALHO LEITE: Como eu sei da capacidade, profundidade das suas pesquisas e de sua vivência política, creio nessa vossa correição na história. Porém, será que não foi o Américo que encomendou o baião e naquela hora do pega pra capar a bufunfa do Ribeiro falou mais alto e compraram o jingle ao Gonzaga e Humberto.? Dinheiro não fala nada mas faz canções na política que é um cômico.
    Limpinho mesmo são poucos e raros. Entende?

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