Eu lembro como se fosse hoje, embora a folhinha do calendário avise que já se passaram 46 anos: Ivan Bichara era o governador, altamente prestigiado pela cúpula militar que governava o país, carregava na bagagem o título de ser casado com uma sobrinha do poderoso José Américo de Almeida e tinha tudo para ser perpétuo no poder.
Não foi.
Os amigos que tanto o paparicavam e exaltavam seus pendores de homem público, o traíram covardemente.
Tarcisio Burity, o novo na política da Paraíba, foi governador indireto e, pelo muito que fez, ganhou um mandato nas urnas. Desse eu fui testemunha ocular e auricular. Trabalhei com ele na campanha e depois fui assessor de sua esposa, a honrada e sempre querida Glauce Burity. Pois foi traído. Eu mesmo ouvi de um dos seus protegidos, de um dos aquinhoados com cargo no primeiro escalão, que o Palácio da Redenção precisava da boemia do governador que entrava, cansado que estava da austeridade do governador que saía.
Quem não lembra de Wilson Braga? Era Deus no céu e Wilson Braga na terra. Braga foi pai e mãe de muita gente. Deu emprego, elegeu candidatos, deu casa e comida para muitos, mas na hora H ficou só na buraqueira. E com fama de corrupto.Aliás, hoje ninguém sequer fala no seu nome. Foi enterrado na maior solidão por causa da Covid.
Zé Maranhão, o mestre de obras, o aviador e governador com mais tempo de permanência no Palácio da Redenção, teve uma homenagem póstuma negada por aqueles que viviam a se anunciar “cem por cento Zé Maranhão”.
Cássio Cunha Lima também foi abandonado na hora da cassação. Com ele ficou a carta de despedida de Antonio Ivo e a solidariedade de uns poucos.
Com Ricardo Coutinho não poderia ser diferente.
Ricardo virou saco de pancadas, deboche de quem o bajulava. Eu cansei de ver certa pessoa fazer guerra nos aniversários de Ricardo para se mostrar como o que deu o melhor presente. E essa pessoa, assim que Ricardo não teve mais a caneta para ajeitar sua vida, deu um coice no antigo amigo para ficar com o amigo que o substituiu. Sem contar com as ingratidões dos que numa circunstância normal jamais passariam do limbo, meteram a faca nas costas de quem os fez gente.
Por isso que digo:A Paraíba é o reduto dos traíras, dos que são mais falsos do que uma nota de três reais, dos que cospem no prato que lhes encheu a pança.
8 Comentários
Grandes verdades você disse na lata, Tião.
Sei que não sou nenhuma dessas figuras importantes da Paraíba, apenas um modesto jornalista, escritor e um mero surfista no mundo do Direito..
Mas foi por razões como essas que abandonei a Paraíba, e hoje, como diria o nosso saudoso amigo Abmael Morais, daí eu só quero mesmo.a passagem de volta.
Não é sem razão que nunca lancei nem pretendo lançar nenhum livro meu nesta terra de traíras. Lanço em qualquer lugar, menos na Paraíba.
E quando eu morrer, quero ser enterrado.bem longe, ou em Brasília, se ainda estiver por aqui, ou.no Rio de Janeiro, onde tenho raízes profundas – filhos e netos – ou em São Luís do Maranhão, onde tenho amigos do peito.
A Paraíba foi apenas um acidente de percurso que somente o destino terá o condão de explicar.
É algo que me deixa abismado, falta de caráter! Mas Ricardo será Senador, a Paraíba deve isso.
Se quiser eu os nomeios todos… por ordem alfabética ou numeração. Crápulas da política.
Tem um deputado que tri desde Ivan Bichara e não passava de vereador, Ricardo o tirou da condição de terceiro suplente e o deixou deputado. Mas dia macaco é homem.
Sr Tarcisio Neves, se o medo do Sr ser enterrado aqui, o que dirá de Brasília DF, aí é que tem mesmo, traíra, piranha e tubarão e muitas coisitas mais, mas respeito seu desabafo
Tião esqueceu do “senador de Zé”, que disse na televisão que estava rezando pela saúde do ex-governador, na época que Maranhão estava internado em estado grave no hospital, e o mundo inteiro viu o gesto de “solidariedade” feito pelo sanguessuga.
Coitado.
Pois é, Airton, mas, o grande problema é que em Brasília certamente não tem tanto traíra no aspecto sobre o qual eu destaquei.
No sentido abordado por você, eu diria que ela foi construída para receber este tipo de traíra, sobre o qual Tião se referiu.
Eles chegaram aqui às terças-feiras e voltam às quintas. Eu aproveitei a bola do Tião quicando na boca do gol e meti pra dentro.
Porque a trairagem por essas bandas banhadas pelo rio Sanhauá é um fenômeno que nem
arte da convivência desconfia.
Portanto, o problema não está em Brasília!